São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Disneyworld não é para turista monoglota

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

O que uma colunista aplicada não é capaz de fazer por seus leitores! Armada de um desses quipás com orelhas de Mickey, lá fui eu passar os primeiros dias de minhas merecidas férias na Disneyworld.
Que morda a língua quem me acusar de ignorante por ter ido passar férias na Flórida. Saiba, ó leitor que não teve infância, que o único propósito que me levou à terra do camundongo de luvas brancas foi o ímpeto jornalístico de desvendar toda a verdade sobre aquele famoso rumor de que as crianças brasileiras chegam à Disney e se transformam nos turistas mais malcriados do planeta.
Crianças, especialmente as tapuias, são seres que eu prefiro admirar enquanto dormem ou imobilizadas com focinheiras, correntes e algemas. A despeito disso, depois dessa viagem, só posso concluir que aquele vídeo feito pela Disney para ensinar nossos pequerruchos a se comportar é um produto típico de gringo com cabresto invisível.
Eu explico: em qualquer brinquedo, passeio ou apresentação do Magic Kingdom, dos estúdios MGM e Universal, do Sea World e de Busch Gardens você é acompanhado por guias que fazem perguntas, dão orientações e explicam tintim por tintim tudo o que você pode e não pode fazer. Se o guri não falar inglês ou espanhol fluentemente não conseguirá seguir as orientações ou responder às perguntas.
Tem mais: excluindo alguns raros exemplos como a Cultura Inglesa, a Alumni e a Berlitz, nem mesmo os professores das escolas de inglês falam a língua fluentemente. Digo isso de boca cheia, pois conheci o mercado de perto quando dava aulas de inglês.
Agora imagine uma criança brasileira, levada à Disneyworld em excursão, por um guia que não é nenhum Shakespeare. Como é que ela vai saber que deve pisar além da faixa amarela, que não se pode colocar as mãos para fora do barquinho ou que a foca pula e morde sua mão se você não alimentá-la (US$ 1 por quatro peixinhos fedorentos) a uma certa distância?
Pior: imagine uma família que vai à Disney sem o guia de alguma tia Stella. Como é que ela vai saber que a baleia Shamu pula e molha dos pés à cabeça todos aqueles que estiverem nas primeiras 18 filas do "baleiódromo"? A triste verdade é que a Disney é feita por gringos para gringos. Os outros que se danem.

E-mail: barbara@uol.com.br

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