São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paul McCartney volta a revolver restos dos Beatles no novo "Flaming Pie"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Flaming Pie" é a volta à carga, após o oba-oba da série "Anthology", da metade criativa sobrevivente dos Beatles: Paul McCartney. É dos discos mais elegantes de sua carreira solo, mas o que isso pode significar é caso a discutir.
Não deve ser fácil ser Paul MacCartney. Ele será sempre acusado de tentar juntar cacos e revolver restos de sua velha banda.
Pois bem, em "Flaming Pie" Paul tenta juntar cacos e revolver restos dos Beatles. Comprova mais uma vez o que os Beatles já faziam suspeitar quando existiram: o conservadorismo é sua raiz.
Se nos 60 o quarteto convulsionou o mundo à base de rebeldia bem-comportada, hoje Paul transfere sua veia retrógrada à eterna mimetização de uns poucos clássicos dos Beatles -especialmente da fase "Rubber Soul" (65).
Aí despontam country rocks como "If You Wanna" (xérox de "What Goes On") e "Young Boy", uma das faladas melodias perfeitas que fizeram o pop beatle.
Orquestrada por George Martin, "Somedays" começa tão piegas quanto "Yesterday" (65) -e ainda mais chata- , para acabar tal e qual "Yellow Submarine" (66).
E a tônica beatle se espraia. "The Song We Were Singing" tem refrão de fazer vergonha a "Hey Jude" (68). "Blackbird", poeminha divertido do "White Album" (68), se destroça em duas faixas, "Calico Skies" e "Little Willow", meras autoparódias.
Às vezes, ele varia, tentando uma fusão de Elvis Costello e Neil Young em "The World Tonight".
Na toada sertaneja "Souvenir", afirma ter em vista o soulman Wilson Pickett. Coitado. Por ironia, é quando se reúne a Ringo Starr que consegue o resultado mais soul (remetendo mesmo à aspereza de Pickett, Otis Redding ou Ike Turner), menos beatle e, portanto, mais notável do CD.
Fecha o trabalho com "Great Day", uma "canção de esperança". Ora, bolas, Paul.
Em tempo: "Flaming Pie" traz o alívio de ver que Paul não deu de imitar seus discípulos de fins de anos 90. O baladão "Heaven on a Sunday" é ainda aquilo tudo que Noel Gallagher daria o braço direito para fazer, se pudesse.
(PAS)

Disco: Flaming Pie
Artista: Paul McCartney
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 18, em média

Texto Anterior: Filho devolve tristeza à obra de Dorival
Próximo Texto: 'Casa de Samba 2' 'junta' água e óleo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.