São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997 |
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Filho devolve tristeza à obra de Dorival
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Não se trata de um compêndio de reinterpretações da obra inquestionável do artista baiano. Levadas com reverência e respeito ilimitados pelo filho, canções universalmente brasileiras como "A Lenda do Abaeté", "O Vento", "Pescaria" e "É Doce Morrer no Mar" voltam quase como se estivessem em suas formas originais, centradas em canto e violão. Não seriam necessárias, diria alguém -bastaria voltar aos temas de Dorival na voz do próprio. Acontece que o projeto de Dori fecha-se ainda em outras intenções. Embora reverente, o filho consegue dar novas cores às canções do pai. As letras trágicas de construções como "A Jangada Voltou Só" ou "O Mar" cobrem-se de melancolia, como a doçura praiana de Dorival jamais permitiria. A voz triste de Dori -tão próxima à do pai quanto distante, porque próxima à da irmã Nana, grande voz feminina do país- devolve a Dorival, então, a dimensão que sua obra sempre possuiu, mas que a voz do próprio autor nunca expôs, por pura filosofia de vida. É nesse sentido que o CD de Dori vem se opor ao que é talvez maior projeto caymmiano concebido por outro artista, "Gal Canta Caymmi" (76). Se Gal Costa potencializou a fibra de vida na obra de Caymmi, este de Dori vem reatar o fio da tragicidade, da tristeza. Aí ele estabelece a ponte entre a obra do pai e os -sempre subvalorizados- trabalhos de Nana e Dori. A melancolia de "Tome Conta..." evoca temas hoje também clássicos, como "Porto" (75) ou "Estrela da Terra" (79, que Nana interpretou), primores de desalento de autoria de Dori. Fechado o ciclo, Dorival se desnuda produtor de canções alegres e filhos tristes. Ou vice-versa. (PAS) Disco: Tome Conta de Meu Filho, Que Eu Também Já Fui do Mar... Artista: Dori Caymmi Lançamento: EMI Quanto: R$ 18, em média Texto Anterior: Dori Caymmi volta ao pai em álbum de canções praieiras Próximo Texto: Paul McCartney volta a revolver restos dos Beatles no novo "Flaming Pie" Índice |
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