São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Computador liberta potencial de deficientes físicos

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

No final do livro "Micro-servos", de Douglas Coupland, a mãe do protagonista, que havia sofrido um derrame e perdido a fala, consegue se comunicar com a família -por meio do computador.
Isso não é ficção científica, nem pura metáfora -milhões de pessoas usam hoje computadores para compensar suas deficiências físicas. Existem até mesmo programas que permitem que cegos usem a Internet -convertem o texto em voz (ourworld.compuserve.com/homepages/aofe/).
Fábio Becker, autor da primeira página feita por um deficiente físico no Brasil (www.geocities.com/SunsetStrip/1973/), acha que a Internet ajuda a trazer pessoas para o mundo de alguém que tem uma limitação física.
"Inclusive ajuda a gente a se socializar no mundo de fora. No meu caso, muitas amizades que fiz em BBS, na RBT e na Internet me levaram a conhecer pessoas, sair, viajar."
A RBT (Rede Brasileira de Teleinformática) é uma rede de troca de mensagens entre BBS, da qual Becker é coordenador nacional desde 91.
Além de sua página, Becker tem uma em que mostra como contorna as limitações impostas por sua tetraplegia (www.plug-in.com.br/~fab/). Ele usa um bastão entre os dentes para digitar. O computador fica numa prancheta, com o teclado enviesado.
Becker, gaúcho de Novo Hamburgo, é sócio de uma empresa de equipamentos médicos, ortopédicos e hospitalares, a FWA (www.fwa.com.br). Usa Internet e BBS para "hobbies e negócios". "Quase 80% do tempo eu gasto em receber e responder mensagens."
Aprendeu "instintivamente": "Todo mundo tenta compensar suas limitações, embora as pessoas se surpreendam com os resultados para os deficientes físicos. Uso as Opções de Acessibilidade do Windows 95. Estou procurando um teclado adaptado, mas não sei se poderei pagar por ele".
Ronaldo teve acesso à Internet pela primeira vez em 94, por meio de uma rede gratuita (freenet) operada pela prefeitura de Recife. Hoje ele tem duas outras contas em provedores privados -Truenet e Elógica. Mas também são gratuitas, pois não tem condições de pagar pelo acesso.
Em sua página na Web, Ronaldo trata de seus interesses -economia, ficção científica e direitos dos deficientes- e dá um depoimento fascinante sobre sua luta para se comunicar e trabalhar. Faz trabalhos gráficos e de digitação.
"Em março, um cara localizou meu site pelo Yahoo e me mandou um mail contando que o pai, já morto, tinha uma leve paralisia cerebral. Ele ajuda um rapaz que tem uma deficiência semelhante a minha e quer me ajudar profissionalmente -vem mostrando ser um amigão e decidiu montar uma empresa virtual de contabilidade comigo."
Como Fábio, Ronaldo tem no computador um atalho entre sua mente e o mundo, que nem sempre o entende e aceita.
"A paralisia não prejudicou minhas funções mentais. Sou mental e psicologicamente normal -a Internet é o único espaço em que esse fato é evidente. Em geral, as pessoas têm dificuldade em acreditar que não tenho retardo mental ou problemas de percepção."
No endereço http://www.geocities.com/hotsprings/7455/index.html fica a página de Adriana Schachter, que reuniu os depoimentos de Fábio, Ronaldo e de outras pessoas com deficiências físicas.

E-mail: netvox@uol.com.br

Texto Anterior: Paixão e perseguição
Próximo Texto: Masur volta a SP com sua filarmônica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.