São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Masur volta a SP com sua filarmônica

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro alemão Kurt Masur, 69, estará em junho, em São Paulo, com a Filarmônica de Nova York.
Fará dois concertos, com produção da Sociedade de Cultura Artística, e um terceiro, no Ibirapuera, onde, em 1987, a mesma orquestra, conduzida por Zubin Mehta, atraiu 100 mil paulistanos.
O concerto gratuito ao ar livre será no dia 15, e será patrocinado pelo Citibank. Sua montagem -novo palco e um equipamento de som que promete decência na reprodução do som dos instrumentos- consumirá US$ 360 mil dos US$ 850 mil que o banco está gastando na co-produção da turnê. No Cultura Artística, os concertos serão nos dias 16 e 17, ambos apenas com ingressos pagos (de R$ 35,00 a R$ 190,00). Ou seja, não há poltronas previamente ocupadas por assinantes da temporada.
Masur falou à Folha anteontem por telefone. Eis sua entrevista.
*
Folha - O sr. concordaria que as orquestras norte-americanas têm hoje um padrão técnico superior ao das européias?
Kurt Masur - Eu não me arriscaria a comparações. Acredito que não se pode utilizar com as orquestras sinfônicas os mesmos parâmetros aplicados aos times de futebol. Há por certo diferenças entre certas orquestras. Se a gente ouve a Filarmônica de Berlim, sabe-se que se espera uma sonoridade grandiosa. Se a gente ouve a Filarmônica de Nova York, é uma outra forma de brilhantismo que está presente, com um frescor muito nítido.
Folha - Já lhe aconteceu de ficar enciumado, porque uma outra orquestra apresentava um desempenho melhor que o da sua?
Masur - Certamente que não. Eu aprecio ouvir todos aqueles que se desempenham satisfatoriamente, da mesma forma com que outros maestros também apreciam o que eu faço. Não creio que se deva fazer esse tipo de comparações.
Folha - Por que a Filarmônica de Nova York não tem executado com tanta frequência peças de Olivier Messiaen, Elliott Carter, William Walton, autores contemporâneos?
Masur - Isso é um perfeito "non sense".
Folha - Como então satisfazer o gosto de quem compra a assinatura da temporada, para quem Mozart tem uma sonoridade mais familiar que a de Messiaen.
Masur - Isso não é verdade. Fizemos recentemente um Messiaen, regido por Zubin Mehta. Fizemos também Elliott Carter e outros compositores contemporâneos norte-americanos. Temos programadas peças de Sofia Gubaidulina. Essa desconfiança sua não possui base concreta.
Folha - Para equilibrar seu orçamento, o governo norte-americano cortou os subsídios federais. Com menos dinheiro, não haveria um risco de queda na qualidade técnica das orquestras norte-americanas?
Masur - O prejuízo das orquestras não será tão grande, porque os subsídios recebidos do governo federal e das administrações municipais nunca representaram uma parcela significativa em nossos orçamentos. A situação não é tão delicada quanto na Alemanha, onde as orquestras são 100% financiadas pelo governo. Qualquer corte no subsídio provoca alterações rápidas e radicais. Por aqui, nos Estados Unidos, estamos todos conscientes de que precisamos de todas as orquestras, inclusive as pequenas, das cidades menores, que têm uma grande identificação com seus músicos. Essas pequenas orquestras sobrevivem graças à tradição norte-americana de doações privadas.
Folha - Depois de três décadas de interrupção, o sr. relançou este ano os concertos da Filarmônica transmitidos pelo rádio. É porque as transmissões pela TV não mais permitiam ampliar o público?
Masur - Acredito ter havido uma mudança nas pessoas. Peguemos os cidadãos que dirigem no trânsito. Entre eles, aumenta cada vez mais a audiência das emissoras que só transmitem música clássica. O mesmo ocorre entre as donas-de-casa. Há inclusive uma experiência bem-sucedida de educação dos ouvidos do público, comandada por uma emissora de rádio de Boston, que todas as manhãs retransmite concertos gravados ao vivo.

Concertos: Orquestra Filarmônica de Nova York, dir. Kurt Masur
Quando: 15 de junho, às 11h; 16 e 17 de junho, às 21h
Onde: parque Ibirapuera (15/6); teatro de Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tels. 011/256-0223/257-3261) (16 e 17/6)
Quanto: à venda a partir do dia 29, entre R$ 35,00 e R$ 190,00; grátis (Ibirapuera)

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