São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Lausanne traz brasileiros em temporada

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Orquestra de Câmara de Lausanne é considerada uma das mais uniformes e astutas formações européias de seu gênero.
Foi fundada em 1942 e tem hoje como diretor musical o espanhol Jesus Lopez Cobos, 57, que já dirigiu a Deutsche Oper de Berlim e a Orquestra Nacional da Espanha, e que hoje acumula Lausanne com a Sinfônica de Cincinnati (EUA).
A orquestra se apresenta amanhã, às 21h, na temporada da série Hebraica-Banco de Boston. Terá como solista o violoncelista brasileiro Antônio Meneses, 39, que também é professor do conservatório da Basiléia (Suíça).
Ele é proprietário de uma carreira meteórica, depois de um primeiro prêmio no concurso Tchaikovski de Moscou (1982) e de ter gravado com o maestro Herbert von Karajan, com a violinista Anne-Sophie Mutter e a Filarmônica de Berlim, o "Concerto Duplo" de Brahms.
Meneses não será o único brasileiro no concerto. Entre as violas, estará Caio Carneiro, 52, há 30 anos na Europa, e com quem a Folha conversou.
Eis os principais trechos de sua entrevista.

*
Folha - O sr. já era músico profissional no Brasil?
Caio Carneiro - Eu era estudante de segundo ano na Escola Politécnica na USP e violinista amador. Fui para a Europa na excursão de um coral e lá estou até hoje.
Folha - Onde estudou?
Carneiro - Fui para a Alemanha pensando em estudar um ou dois anos. Passei por Hannover seis meses, fiz um curso de verão em Portugal com Rudolf Baumgartner, e, a convite dele, me transferi para Lucerna, na Suíça. Fiquei por lá dois anos, e, como bolsista, terminei meus estudos em Munique.
Folha - Estava então na hora de voltar para o Brasil?
Carneiro - Era o meu plano, mas nesses quatro anos e meio de estudos eu conheci minha mulher, que é suíça. Casei-me, fomos para Berlim, onde ela se tornou violinista na Orquestra da Rádio de Berlim, e eu me tornei violista na Orquestra da Ópera de Berlim.
Folha - Era e continua sendo uma cidade com vida musical bastante intensa.
Carneiro - Sem dúvida. Havia semana em que na Filarmônica havia concerto regido por Karajan, na ópera eu tocava "Tristão e Isolda" (Wagner) com Zubin Mehta, e minha mulher, na Orquestra da Rádio, era dirigida por Lorin Maazel.
Folha - E porque deixou Berlim?
Carneiro - A cidade, mesmo com toda essa música, tinha um problema político bastante atemorizador. Eu não queria que meu filho crescesse junto ao muro (divisa das duas Europas) e das tensões que isso gerava. Li um anúncio de que a Orquestra Lausanne procurava um violista...
Folha - Seu filho é músico?
Carneiro - Fizemos de tudo para que ele se interessasse, mas sem nenhum resultado até há uns quatro anos. Começou a tocar a violão e agora se interessa enormemente por música clássica. Passou a frequentar todos nossos concertos e a discuti-los bastante.
Folha - Sua mulher também toca na mesma orquestra?
Carneiro - Agora, sim. Ela violino, e eu viola.
Folha - Quantos músicos tem a Orquestra de Lausanne?
Carneiro - Ao todo, 44 músicos, mas em cada concerto há no máximo 36 ou 37. Os que não tocam estão de folga obrigatória.
Folha - Hoje, no Brasil, na melhor das hipóteses, como músico de orquestra, o sr. ganharia R$ 3.200 mensais. Na Suíça é muito mais?
Carneiro - Não chega a ser o dobro dessa quantia, mas se ganha bem mais.
Folha - O sr. tem algum contato com a música brasileira?
Carneiro - Só toco a música programada pela orquestra. Mas nos últimos cinco anos fui eleito representante dos músicos junto à administração da orquestra (não confunda com a função sindical!). Como tomo parte em todas as decisões internas, também posso sugerir peças à programação. Já fizemos por isso Villa-Lobos e Camargo Guarnieri.
Folha - Como é composto o orçamento da orquestra?
Carneiro - Ele é de 9 milhões de francos suíços por ano (R$ 6.7 milhões).

Concerto: Orquestra de Câmara de Lausanne, dir. Jesus Lopez Cobos
Programa: Jarrell, Dvorak, Saint-Saes e Mozart
Quando: quinta-feira, às 21h
Onde: A Hebraica (r. Hungria, 800, tels. 011/818-8888/8889)
Ingressos: de R$ 35,00 a R$ 70,00

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