São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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A velocidade das transformações é um problema?

BILL GATES

Pergunta - No passado, as pessoas faziam planos para a vida inteira, baseadas na premissa de que havia uma estrutura econômica estável. Mas, hoje em dia, as transformações se dão com velocidade muito maior, com o lançamento de novos produtos de computação e comunicação, como a Internet. Você vê isso como um problema?
Jay Roberts (72073.2630@compuserve. com).
Resposta - As transformações são ao mesmo tempo um problema e uma oportunidade.
Mas é importante lembrar que os avanços tecnológicos não bastam para motivar transformações sociais. É preciso que pelo menos algumas pessoas adotem esses avanços, senão a transformação não acontecerá.
Existem duas tendências que levam novos produtos a ser adotados por períodos prolongados, e não apenas imediatamente.
Os produtos evoluem lentamente para atender às necessidades do mercado, e o mercado se adapta lentamente às novas oportunidades.
No início, os novos produtos, em sua maioria, são tão caros e suscitam tanta perplexidade que apenas um grupo pequeno de pessoas faz uso deles.
À medida que o número de usuários aumenta, os preços caem e os produtos são aperfeiçoados. Isso, por sua vez, fortalece as vendas.
Telefone, televisão, calculadora eletrônica e telefone celular constituem exemplos de produtos que começaram custando caro e que eram usados apenas por uma pequena parcela da população.
Hoje, esses produtos já foram melhorados em muito, são relativamente baratos e estão presentes por toda parte -e, muitas vezes, sob formas que ninguém previa inicialmente.
Por exemplo, quando a fiação elétrica foi instalada nas primeiras casas, duvido que alguém imaginasse que elas algum dia seriam limpadas com aspiradores de pó movidos a eletricidade.
Você pode pensar na evolução de um produto como o processo pelo qual ele se prepara para ser usado pela grande massa da população. Isso já representa meio caminho andado.
A outra tendência, igualmente importante, é que as pessoas demoram a reformular suas atitudes mentais, habilidades e expectativas, de modo a fazer uso das oportunidades oferecidas por um novo produto.
Ouvir falar de um produto, experimentá-lo, acostumar-se com ele e passar a depender dele leva anos. Mesmo se os videocassetes de boa qualidade tivessem custado pouco desde o início, vários anos seriam necessários para que eles se popularizassem.
As pessoas decidem por si mesmas o ritmo com que desejam mudar, comprar coisas com novas feições e confiar em novos sistemas.
Muitas vezes, os comportamentos só mudam realmente quando uma geração seguinte, não comprometida com a maneira antiga de fazer as coisas, atinge a maioridade.
A Internet vai provocar muitas mudanças na sociedade, porque tem o potencial de ser uma maneira tão eficiente de aproximar compradores de vendedores (mesmo quando o que está sendo "vendido" é informação oferecida gratuitamente, como ocorre com a Web de hoje).
Mas a rede, por si só, não vai fazer nada acontecer. Embora a mediação que a Internet ofereça seja extremamente eficiente, ainda se trata de satisfazer desejos humanos.
Se você deseja trabalhar em casa, será que há alguém que queira contratar você?
Se quer encontrar um bom médico, sente-se à vontade usando a Internet para ajudá-lo em suas pesquisas?
É preciso que exista uma massa crítica de pessoas que utilizem a nova ferramenta.
Se isso não acontecer, ela será, em grande medida, irrelevante. Uma nova máquina não nos obriga a avançar em determinada velocidade.
A máquina -neste caso, a Internet- faz uma diferença apenas quando satisfaz preferências e interesses humanos.
Esse fato me conforta, e espero que a você, também.

Pergunta - Você é canhoto ou destro? (chamber@atcon.com)
Resposta - Sou canhoto para a maioria das coisas, mas, para muitas coisas, sou ambidestro. Quando eu era aluno, tomava nota das aulas com as duas mãos. Eu costumava escrever com a mão direita quando estava entediado e sentia vontade de fazer algo diferente.

Pergunta - Com dúzias de pessoas trabalhando juntas num projeto de desenvolvimento de um software, como o "Microsoft Word", como os programadores interligam as diferentes partes para formar o programa todo?
Darminder Singh, Cingapura (darminder@singnet.sg)
Resposta - Há 14 anos, quando desenvolvemos nosso primeiro processador de textos, a equipe responsável era composta por cinco pessoas.
Era um número ideal -suficientemente grande para realizar muita coisa, mas bastante pequeno para ser fácil de coordenar.
Hoje em dia, é preciso uma equipe de 50 a 60 engenheiros de software para criar uma nova versão de algum grande produto de software, de modo que sua pergunta é pertinente.
Como coordenamos o trabalho interligado de tantas pessoas, especialmente quando temos prazos rígidos a cumprir?
Em primeiro lugar, continuamos a utilizar equipes que costumam ser compostas por apenas alguns poucos engenheiros.
Cada equipe cuida de um elemento ou conjunto de elementos. Nós chamamos essas equipes de "feature teams". Todo grande projeto de software engloba vários "feature teams".
No caso do "Microsoft Word 97", utilizamos seis equipes: Internos e Desempenho, Programabilidade, Integração Compartilhada de Códigos, Elementos Web/Online, Processamento de Textos Básico e Extremo Oriente (para as versões do "Word" destinadas ao Extremo Oriente).
Os membros de uma equipe cooperam estreitamente entre si. Seus escritórios são contíguos e eles constantemente reúnem seus trabalhos num só, utilizando ferramentas automatizadas de teste para assegurar que as partes se encaixem e que seja mantida a velocidade das operações chave, tais como abrir e salvar arquivos.
À medida que cada equipe se aproxima da conclusão de sua tarefa, há marcos periódicos em que deixamos de acrescentar novas funções e tiramos tempo para examinar tudo com cuidado, para assegurar que todas as novas peças estejam funcionando corretamente em conjunto.
Durante todo o decorrer do processo, fazemos testes. Os engenheiros passam metade do tempo testando, enquanto os "testadores" passam seu tempo inteiro fazendo isso.
Assim como acontece com a maioria dos mais complexos projetos de engenharia do mundo, investimos mais anos-homem nos testes de nossos produtos do que em seu desenvolvimento.
E isso ocorre antes de iniciarmos os "testes beta", nos quais os consumidores testam o software antes de seu lançamento oficial.
Um dos lugares mais importantes onde realizamos os testes beta é nossa própria empresa. Só lançamos a primeira versão do produto de envio de mensagens "Exchange" depois de fazer com que 20 mil pessoas na empresa o utilizassem dia e noite.
De modo geral, o processo de desenvolvimento e testes funciona bem, e as ineficiências são surpreendentemente poucas.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.

E-mail: askbill@microsoft.com

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