São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Reforma não é prioridade, diz MST

ANTONIO CARLOS SEIDL
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

João Pedro Stédile, um dos principais dirigentes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) disse ontem que toda a sociedade brasileira está percebendo que a reforma agrária não é uma prioridade para o governo FHC.
Stédile fez essa afirmação durante os debates sobre o tema "Reforma agrária e política agrícola", no 9º Fórum Nacional, promovido pelo Inae (Instituto Nacional de Altos Estudos) na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O líder sem terra baseou sua afirmação na análise feita, momentos antes, em palestra, pelo secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Leite da Silva Dias, segundo a qual durante os dois primeiros anos do governo FHC desapareceram 400 mil pequenas propriedades rurais.
"Isso prova que a reforma agrária não é prioridade, que o governo não quer saber de nada com a agricultura, que o governo quer saber é de capital estrangeiro e de financiamento dos grandes bancos", disse Stédile.
Stédile descartou a participação do MST na comissão de alto nível que o Planalto quer criar para debater a questão agrária do país.
"Não queremos discutir o sexo dos anjos. Queremos conversar com o governo sobre coisas concretas. No Brasil quando não se quer resolver um problema se cria uma comissão."
Segundo Stédile, o MST quer soluções emergenciais para resolver os problemas das 50 mil famílias acampadas, a liberação de R$ 750 milhões para a safra e crédito rural.
O MST, disse Stedile, vai continuar lutando pela reforma agrária que tenha como base a desapropriação de latifúndios improdutivos. Ele afirmou que a reforma baseada em assentamentos é um paliativo para resolver o problema social de alguns poucos.
"Só sobra ao movimento, como forma de pressão, organizar os companheiros para ocupar as terras improdutivas, o que aliás está previsto na Constituição no seu artigo 185, que determina que todas as terras improdutivas deveriam ser desapropriadas."
O representante do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária), Marcos Correia Lins, disse que o governo vai promover o acesso dos pequenos produtores à terra por meio de uma linha de financiamento com recursos do Banco Mundial.
A idéia inicial é colocar cerca de R$ 75 milhões à disposição dos pequenos produtores sem terra.
Lins também disse que o governo considera a possibilidade de negociar um pacto federativo para a questão agrária no país.
O pacto integraria os Estados na formulação e implementação da política fundiária no país.

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