São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Mulher reconhece PM que teria atirado

ANDRÉ LOZANO

ANDRÉ LOZANO; ROGERIO SCHLEGEL; CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Emilene Siqueira, 20, afirma ter visto o soldado Luciano do Nascimento atirar na nuca de Crispim José da Silva

Emilene Rodrigues Siqueira, 20, reconheceu ontem o soldado Luciano Félix do Nascimento, da Cavalaria da PM, como o autor do tiro que matou Crispim José da Silva, anteontem, na desocupação da Fazenda da Juta, em São Mateus (SP).
O reconhecimento pessoal foi acompanhado pelo delegado-titular da 8ª Delegacia Seccional, Antonio Mestre Júnior, e pelo promotor de Justiça designado para acompanhar o caso, Francisco José Tadei Cembranelli.
Segundo o promotor Cembranelli, Emilene teria dito em seu depoimento que havia passado mal no início da ação da PM -segundo a polícia, ela sofreria de epilepsia- e que Silva, seu primo, teria tentado socorrê-la. Nessa hora, o soldado Nascimento, a cavalo, teria mandado Silva se afastar dela.
O manifestante teria iniciado uma discussão com o PM, que teria, então, sacado o revólver e atirado contra Silva. O PM nega a agressão. "Essa é a versão de Emilene", disse o promotor. A moça disse que poderia reconhecer o PM porque, antes de passar mal, teria tentado furar uma barreira e se deparado com o policial Nascimento, que estaria sem capacete.
Cembranelli considerou o reconhecimento uma "prova forte". Segundo ele, Emilene foi "categórica e chegou a chorar" quando apontou o suspeito, entre outros cinco PMs igualmente fardados.
"Ela foi a primeira testemunha capaz de identificar um atirador. No entanto, é prematuro fazermos avaliação com as investigações no início", afirmou o promotor.
O delegado Mestre disse que o reconhecimento é "prova fraca". "Só o reconhecimento não é necessário para incriminar o PM."
Questionado sobre a versão de que Silva poderia ter sido morto por um tiro disparado por seus colegas, o delegado afirmou: "Nós admitimos até essa hipótese".
O promotor e o delegado disseram que o reconhecimento precisa ser cruzado com provas técnicas, como exames necroscópicos, do local da ação e de balística. Este último poderia determinar se a bala que matou Silva foi disparada da arma do PM suspeito. A polícia apreendeu 98 revólveres de PMs.
O pastor evangélico Getúlio Batista da Silva, que participou do confronto, disse anteontem que ele e mais quatro pessoas podem apontar os autores dos disparos. Ele diz que ainda não indicou os suspeitos "com medo de represália dos PMs".
Segundo moradores, PMs tinham duas armas. Depois de atirarem com a suposta arma "fria", a guardavam e empunhavam a "oficial". Moradores disseram que o PM que teria atirado contra Jurandir da Silva é moreno, de estatura média e usa bigode.

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