São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Governo teme o acordo que fez

ROGERIO SCHLEGEL; MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo do Estado fez um acordo para tirar os invasores do Conjunto Habitacional Juta 2 na noite de anteontem, mas ontem já temia que o acerto estimulasse novas invasões e preferia não ter que cumprir um de seus pontos.
Em reunião com invasores e líderes de movimentos de sem-teto anteontem, Walter Feldman, chefe da Casa Civil, concordou em apressar a cessão de áreas para mutirão no caso dos que não forem "adotados" por mutirões que estejam em andamento.
A proposta foi feita depois que representantes de movimentos de sem-teto concordaram em tentar acomodar parte dos invasores em projetos já adiantados.
Ontem, Edson Marques, coordenador de mutirões da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), disse que tentará evitar "furar a fila", passando os invasores da antiga Fazenda da Juta na frente de outros grupos que esperam mutirão.
"Furar a fila é um caminho espinhoso, que pode provocar problemas lá na frente", disse Marques. "Já fui procurado por outros movimentos, ameaçando invadir para ganhar prioridade, como está ocorrendo com o pessoal da Juta."
Marques não descartou apressar a liberação do mutirão para os invasores, mas espera que os movimentos ofereçam unidades para todos os desalojados em reunião marcada para a próxima terça-feira, entre CDHU e sem-teto.
Só 20 das 440 famílias que deixaram os blocos invadidos foram para um abrigo da empresa, no Brás. As demais foram para casa de parentes e amigos, segundo a CDHU.
Os ex-moradores da Juta vão voltar ao conjunto habitacional no próximo domingo, às 15h30, para assembléia que vai discutir a organização do grupo.
Segundo um dos líderes do Movimento dos Sem-Terra pela Moradia do ABC, Ademar Luiz Machado, o encontro servirá para orientar os ex-moradores sobre as senhas que receberam ontem da CDHU, garantindo sua participação nos resultados do acordo.
Machado disse que eles deverão formar duas associações para a construção em mutirão.
Nesse sistema, o governo dá o terreno e financia a construção, feita com ajuda dos beneficiados.
Um apartamento de 41 metros quadrados sai por R$ 10,7 mil dessa forma, enquanto um construído por empreiteira em terreno do Estado custa em torno de R$ 17 mil.
(ROGERIO SCHLEGEL e MT)

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