São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Dirigente do MST prega invasão de áreas

ANTONIO CARLOS SEIDL
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

João Pedro Stédile, principal dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) previu ontem novos choques entre os sem-teto e a polícia, recomendando que a classe média construa "muros mais altos" e contrate "mais policiais militares".
"O êxodo rural, provocado pela falta de uma ampla reforma agrária, armou um verdadeiro barril de pólvora nas cidades", afirmou.
"A nossa pregação é para que todos os pobres das cidades se organizem para resolver seus problemas, ao invés de esperar pelo governo", disse em entrevista no Rio, onde participou do 9º Fórum Nacional, no BNDES.
Stédile recomenda que os sem-teto "ocupem" terrenos baldios, que servem à especulação imobiliária, para pressionar o governo a resolver o problema.
Segundo ele, o MST não vai mudar sua pregação por causa das mortes de três sem-teto no conflito com a polícia, anteontem, em São Mateus (zona leste de São Paulo).
"As mortes não são responsabilidade do povo que se organiza, mas dos governos irresponsáveis, como o do senhor Mário Covas, que ainda não têm a visão política de perceber que problema social não se resolve com polícia."
Stédile defendeu as invasões e manifestações como forma de pressão contra "governos e autoridades hipócritas", que, segundo ele, reagem momentaneamente diante das pressões da opinião pública, e depois jogam os problemas sociais para debaixo do tapete.
"Se o sujeito está desempregado, não deve esperar pelo Ministério do Trabalho. Deve se organizar e fazer manifestação em frente à Fiesp, em frente às fábricas que estão fechando por causa da política econômica do governo, e, se tiver fome, deve fazer manifestação na frente dos supermercados, porque está na Bíblia que todo ser humano tem direito de se alimentar", declarou ele.
"A mobilização no campo evidentemente vai crescer para as cidades porque o trabalhador rural não está tendo acesso à terra no interior. Essas pessoas vão para as cidades, onde o clima de tensão social vai aumentar, porque nas cidades também não há emprego, não há política social."

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