São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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A Paranapanema e a Previ

LUÍS NASSIF

Dias atrás, a coluna mencionou rumores sobre negociações que estariam sendo feitas entre a Companhia Vale do Rio Doce e a Paranapanema. Em troca do apoio dos fundos de pensão à compra da Vale, o grupo controlador teria se comprometido a fazer com que a empresa tirasse dos fundos o "mico" da Paranapanema -um megainvestimento, que permitiu aos fundos assumir o controle da Paranapanema, da Paraibuna Metais, da Caraíba Metais e da Eluma.
Na ocasião da compra, fim do governo Itamar, houve muitas críticas no mercado sobre o preço pago pelas companhias. No ano seguinte, a megaempresa surgida da fusão passou a enfrentar problemas financeiros expressivos.
Mencionado no texto, o ex-presidente da Previ (o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) José Valdir -personagem-chave da operação- entra em contato com o colunista para apresentar sua versão do episódio.
Diretor eleito
A proposta de aquisição das quatro grandes mineradoras foi apresentada pelo Banco Fator, em cima de argumentos de ganhos de escala. A Paraibuna produz zinco, a Paranapanema, estanho, a Caraíba, cobre, e a Eluma, produtos de cobre.
Todas as empresas eram familiares e passavam por momentos difíceis, seja de sucessão, seja de gestão. Algumas, como a Paraibuna, estavam em situação pré-falimentar.
Sócios operadores
A compra previa a participação de sócios operadores, capital e sinergia. O primeiro passo da Previ -segundo Valdir- foi procurar a Vale do Rio Doce e a Anglo American, maior mineradora do mundo.
A Vale poderia dar a sinergia requerida. De sua parte, ajudaria a viabilizar o projeto Salobo -um superinvestimento de US$ 1,5 bilhão-, à medida que as instalações da Caraíba substituiriam investimentos onerosos na região amazônica.
As demais empresas, por sua vez, ganhariam integração. Algumas não possuíam metalurgia (caso da Paraibuna), outras possuíam metalurgia, mas não a mina (caso Caraíba).
Por indicação dos diretores da Vale, foi contratada a melhor empresa de consultoria do mundo para o setor, a Jaako Poyri, que levou quatro meses fazendo o trabalho de avaliação das empresas.
Depois do trabalho completo, foi apresentado aos setores técnicos das fundações. Segundo Valdir, a reavaliação resultou em redução de 38% nos preços da Paraibuna, 20% da Caraíba e 33% da Paranapanema. A Eluma já pertencia aos fundos.
A operação foi aprovada pela diretoria, pelo Conselho de Administração e pelo Conselho de Investimento da Previ (formado por 7 diretores, dos quais 4 eleitos) e por três ministérios a quem a Previ estava sujeita.
Pessoas ligadas à Vale, que acompanharam as negociações na época, atestam que o preço foi considerado adequado pela companhia.
Fazendo água
A operação começou a fazer água em duas frentes. A decisão de privatizar a Vale fez o governo vetar a ampliação de seus negócios. E a entrada da Anglo esbarrou em problemas internos dela, e em divergências em relação ao acordo de acionistas.
A saída dos sócios, além da perda de sinergia, resultou em um rombo de US$ 70 milhões -que era fundamental para a eliminação de passivos onerosos.
Mais: na mudança de governo, assumiu a presidência da Previ Luiz Fernando Vasconcellos -um funcionário do BB que se tornou político-, que passou a criticar a operação.
A reestruturação das empresas levaria no mínimo três anos. Afinal, são 68 empresas coligadas, com culturas e problemas diferentes. As críticas partidas do principal financiador acabaram por levar a desconfiança ao mercado financeiro, precipitando os problemas da companhia.
Segundo a diretoria da Paranapanema, há números relevantes a serem exibidos, no plano econômico, mostrando a recuperação da companhia. Mas a lógica da entrada da Vale continua de pé. Portanto, a retomada das negociações era natural, assim que terminasse o processo de privatização.
Senhor X
Técnicos da Receita informam ser impossível a negociação política com o suposto Senhor X, em torno da fiscalização da Receita. Primeiro, porque não se negocia politicamente -segundo essas pessoas. Segundo, porque a empresa que seria do Senhor X já foi fiscalizada e autuada. Não há retorno possível.

Email: lnassif@uol.com.br

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