São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Som de Rampal fica melhor em francês

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Escolas nacionais e locais de interpretação musical rapidamente perdem sentido em um mundo globalizado, em que os intérpretes muitas vezes adquirem sua formação em diferentes países. Mas a tradição francesa de instrumentos de sopro é um caso à parte.
Um bom exemplo é a coleção de quatro CDs de Jean-Pierre Rampal, que a EMI acaba de importar da França, intitulada "La Fl–te Enchantée" (A Flauta Mágica).
O álbum é uma antologia das primeira décadas da carreira desse solista, nascido em 1922, conhecido pela suavidade e leveza de suas leituras. Abarca 300 anos de repertório -de Bach e Telemann a Honegger, passando por Haydn, Beethoven, Schubert, Ravel e Debussy. As gravações, das décadas de 50 e 60, agora foram remasterizadas pela EMI francesa e trazem Rampal acompanhado por cravistas e pianistas como Robert Veyron-Lacroix e Françoise Gobe, por Lily Laskine, sua parceira de muitos anos à harpa, e por orquestras.
São as sonatas de Bach, gravadas no início da década de 50, as que mais evidenciam as limitações do flautista: a preocupação com a forma e a fluência parece ser tudo para ele, o que impõe à música uma certa dose de superficialidade e de virtuosismo vaidoso, de maquiagem e arredondamento e de bom humor excessivo.
Embora de efeito agradável, essa leitura não faz jus ao que a música de Bach tem de substância, peso e conteúdo musical. Rampal toca Bach como se sua música se esgotasse em si mesma, e acaba por sufocar o que, embora não soe, deveria estar implícito. Vale mais ou menos o mesmo para Telemann, que ocupa no segundo disco.
Os outros dois CDs são outro capítulo. O temperamento do flautista parece ter sido feito sob medida para a "Sonata para flauta e piano em dó maior", de Haydn, música tipicamente galante, com traços de rococó e raiz folclórica. O mesmo serve para a serenata com flauta, violino e clarinete, de Beethoven, obra de sua primeira fase.
O quarto CD, com músicas de Debussy, Ravel, Roussel e do suíço Honegger, mostra Rampal em seu elemento. A música impressionista francesa, com sua serenidade meditativa quase oriental, sua sinuosidade e suas nuanças infindáveis, foi talhada para o seu estilo ao mesmo tempo "cool" e ornamentado. Esta antologia demonstra, sobretudo, a grande afinidade de Rampal com a música que fala a sua língua -tanto a do classicismo, influenciada pela música galante francesa, quanto a música feita na França nos últimos cem anos.

Disco: "La Fl–te Enchantée" (quatro CDs)
Artista: Jean-Pierre Rampal
Lançamento: EMI Classics
Quanto: R$ 75,00 (em média)

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