São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
Próximo Texto | Índice

DIADEMA, SÃO MATEUS

Para o governador de São Paulo não há fatos que permitam chamar de arbitrária a ação da PM na desocupação de um conjunto habitacional paulistano. Depreende-se que, para Mário Covas, a polícia empregou métodos apropriados e estabelecidos para enfrentar uma situação que se afigurava como de motim.
Pode-se supor que, com essas declarações, o governador estaria tentando evitar um crítico acerto de contas com sua descontrolada polícia. Mas, admitindo que Covas acredite no que diz, seu raciocínio é paralelo ao de Iris Rezende, futuro ministro da Justiça. Em depoimento espantoso sobre o caso São Mateus, Rezende afirmou que, muitas vezes, o "crime é inevitável". Para Covas, a PM agiu como deveria; não seria possível tentar restringir a violência do confronto, que degenerou em mortes.
Não se está afirmando que a PM matou os três sem-teto. O que ficou claro em fotos e filmes -que dão transparência ao caso, segundo o próprio Covas- é que houve no mínimo incompetência culposa dos comandantes da ação em São Mateus.
Mesmo tropas de países em estado de guerra, como por exemplo as de Israel, utilizam armas de efeito moral para dissolver distúrbios. Balas de borracha, gases e jatos d'água são recursos clássicos de polícias antimotim para conter o ímpeto de multidões agressivas e para circunscrever a violência nessas situações.
Os policiais militares, porém, estavam arranjados para um confronto direto e desordenado; sem a proteção de escudos e de uma formação compacta, sem se valer de técnicas e equipamentos de intimidação, a PM se engalfinhou com uma multidão de fato violenta e desesperada.
A ação era legal e, de início, legítima; havia ordem judicial e, de qualquer modo, o poder público deve agir sempre com energia para pelo menos coibir a onda ilegal e intolerável de invasões. Mas, ao tentar cumprir sua tarefa, a PM mais uma vez demonstrou incompetência, descaso pela vida e arbítrio -decidiu à vontade e circunstancialmente como lidar com uma situação crítica, desprezando métodos e recursos de que dispunha para limitar a violência.

Próximo Texto: MAIS BANCOS NÃO BASTAM
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.