São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MAIS BANCOS NÃO BASTAM

São bastante oportunas as declarações do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luiz Carlos Mendonça de Barros, em defesa de uma maior presença de bancos estrangeiros no sistema financeiro nacional. O objetivo da abertura, na sua visão, é assegurar uma oferta crescente de créditos de longo prazo -em tese, menos custosos. Entretanto, da filosofia ou da intenção à prática, vai uma longa distância.
A concentração do sistema bancário brasileiro em operações de curto prazo e a hipertrofia do próprio BNDES nos financiamentos de longo prazo são conhecidas. O diagnóstico de Mendonça de Barros, portanto, é correto. Mas a tese de que uma abertura maior do sistema a bancos estrangeiros resulte em mais oferta de créditos de longo prazo é discutível.
Por enquanto, continua no ar a dúvida sobre os efeitos da entrada do Hongkong Shanghai Bank sobre a qualidade dos serviços, as tarifas e as estratégias dos vários bancos brasileiros. Teoricamente, a concorrência estrangeira tenderia a produzir queda de custos e aumento de qualidade.
Quanto ao crédito de longo prazo, é tênue a sua relação com o número ou a nacionalidade dos agentes financeiros. O principal obstáculo ao financiamento de longo prazo está no desequilíbrio das contas públicas. É o governo que absorve a poupança disponível, direcionada para financiar o déficit público no curto prazo.
Outras frentes relevantes de constituição de poupança e de créditos de longo prazo são a reforma previdenciária (em marcha lenta) e a privatização de serviços, sobretudo nos setores de saneamento, telecomunicações e energia elétrica (também em compasso aquém do esperado).
Em resumo, se é importante abrir o mercado bancário brasileiro (em benefício dos correntistas), um sistema de crédito de longo prazo depende mais da reforma do Estado do que do número ou origem dos bancos.
Nas atuais condições, a entrada de novas instituições pode servir apenas para avivar a ciranda de financiamento de curto prazo do déficit público.

Texto Anterior: DIADEMA, SÃO MATEUS
Próximo Texto: A GREVE DE ÔNIBUS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.