São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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CPI: a hora de entrar

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Tem umas coisas na vida que acontecem quando a gente menos espera. A primeira reação é espernear e lutar contra o fato adverso. Isso é da natureza humana.
Muita gente acaba extrapolando na hora de atender aos apelos do instinto. E acaba entrando em portas erradas. Perdendo oportunidades.
É mais ou menos essa a situação do governo FHC. Foi surpreendido pelas fitas com as gravações de deputados confessando o crime da venda de votos por 200 dinheiros.
As primeiras reações do núcleo central do governo foram compreensíveis. Quiseram desqualificar os fatos. Tentaram atacar a integridade do meio que divulgou os fatos.
A segunda reação governista teve mais controle. Admitiu-se o fato. Mas, como se diz por aí, o presidente se lembrou de uma frase da época da academia: "O inferno são os outros".
Em outras palavras, escândalo mesmo era só com os pobres bagrinhos acreanos. No caso das citações ao ministro Sérgio Motta, todas teriam sido feitas por pessoas desqualificadas. E, na opinião do governo, a Folha "forçou a barra".
Agora, os líderes governistas no Congresso estão começando a perceber que o Planalto está querendo jogá-los numa fria. Para consumo externo, FHC diz não ser contra uma CPI da reeleição, mas não vê necessidade.
Por baixo dos panos, a pressão sobre os deputados aliados é gigantesca para que ninguém assine o requerimento da CPI. Só que os líderes governistas é que ficam com a pecha de ser contra mais investigações. E o Planalto sai com a imagem de neutro.
Essa situação de desequilíbrio entre Congresso e Planalto deve ser corrigida hoje, quando haverá uma reunião sobre o assunto, sob a coordenação do ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos).
Nessa reunião, alguns líderes governistas que ainda pensam com mais juízo devem dizer que a CPI está se tornando inevitável. E que a hora de entrar é já. Se o governo deixar para depois, ficará refém da oposição.

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