São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Homem assassina 14 e é morto no RN

PAULO MOTA

PAULO MOTA; PAULO FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NATAL

Crimes seriam vingança contra morte do filho e 'prova' de que ele não era homossexual, diz testemunha

PAULO FRANCISCO
O comerciante e ex-soldado do Exército Genildo Ferreira de França, 26, matou pelo menos 14 pessoas a tiros de pistola 765 e revólver calibre 38 num período de 22 horas, em cidades na região metropolitana de Natal (RN). A matança acabou com sua própria morte, num cerco policial.
A polícia afirmou que todas as vítimas, mortas entre as 14h de quarta e as 12h de ontem, tinham tiros na cabeça e muitas também no tórax, à queima-roupa.
A primeira vítima foi um taxista de sua cidade, São Gonçalo do Amarante. Após o crime, França se apoderou do táxi.
Depois, o comerciante matou a atual mulher, a ex-mulher, a mãe e o padrasto da ex-mulher, além de vizinhos e outras pessoas. França foi morto por homens da PM e da Polícia Civil às 12h10 de ontem.
Desde as 14h do dia anterior, o assassino estava acompanhado da menina V.R.S., 16. Na manhã de ontem, passou a levar também a filha Gislaine, 5.
Durante as 22 horas em que esteve com V.R.S., usou-a como isca para atrair pessoas para o táxi que dirigia. A menina prometia às vítimas diversão numa festa.
O assassinato em massa só acabou quando França foi cercado num terreno próximo a uma cerâmica, a 2 km de sua casa, em São Gonçalo do Amarante. Poucos momentos antes de ser morto, deixou as duas meninas irem embora.
Segundo V.R.S., o comerciante deu um tiro no próprio peito e, depois, ainda deu tiros. Os policiais dizem que V.R.S. escapou levando Gislaine e foi morto quando enfrentou a polícia.
Ele estava armado com um revólver calibre 38, uma pistola 765 e uma faca. Foram encontradas com ele também 104 balas. França usava uma jaqueta do Exército. Segundo a polícia, ele prestou serviço militar, mas não fez carreira.
O sargento José Guilherme Sobrinho, da PM de São Gonçalo do Amarante, afirmou que houve demora para conseguir cercar e deter o matador porque a cidade só tem um carro de polícia. Os policiais vindos de Natal demoraram.
Cerca de 200 policiais participaram da perseguição.
A menina V.R.S. disse que França cometeu os crimes como "vingança" pela morte do filho Iuri, há dois anos, atropelado pelo taxista. Afirmou também que o comerciante disse que queria provar que não era homossexual.
Esses motivos estão relatados numa carta encontrada com o corpo da ex-mulher dele, Mônica (leia abaixo). V.R.S disse à polícia que França ditou a carta para ela.

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As vítimas: Antônio Josemberg Campelo, mensageiro da Telern (Telecomunicações do Rio Grande do Norte), morto com sete ferimentos à bala, em Santo Antônio de Potengi (a 6 km de São Gonçalo do Amarante); Baltazar Jorge de Sá, ex-sogro; Tereza Carlos Ribeiro, ex-sogra; Mônica Carlos de França, primeira mulher de França; Fernando Corrêa de Souza, caminhoneiro, encontrado na estrada que liga Natal a São Gonçalo do Amarante, ao lado de seu caminhão; Francisco de Assis Bezerra, sargento; Elias dos Anjos Pimenta, encontrado no loteamento Nova Zelândia, em São Gonçalo do Amarante; Maria Valdete Rafael da Costa, segunda mulher de França, encontrada em Santo Antônio de Potengi; Francisca Neide Rafael da Costa, mãe de Maria Valdete; Werner Ferreira de Oliveira, encontrado no loteamento Nova Zelândia; Flávio Silva de Oliveira, operário, encontrado em sua casa, em São Gonçalo do Amarante; João Maria de Lima, encontrado na estrada de Guajiru, entre Natal e Ceará-Mirim; Manuel Brito Marcolino, encontrado na estrada de Guajiru; Edilson Veras, encontrado na estrada de Guajiru; Genildo Ferreira de França, autor dos tiros que provocaram as 14 mortes.

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