São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Mulher é incendiada durante briga

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

A empregada doméstica Maria Rejane de Lima Peres, 26, foi internada na quarta-feira, às 22h, na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Municipal do Tatuapé (zona leste de São Paulo), com 51% do corpo queimado.
As queimaduras, de segundo e terceiro grau, espalhadas pelo corpo, teriam sido causadas pelo companheiro dela, o vigilante Antônio Alves Brás da Silva, 26.
A vizinha do casal e madrinha do filho de Rejane, Lucicleide Rodrigues, disse que o menino J., 5, que presenciou a briga, contou que foi a mãe quem atirou álcool no próprio corpo.
"Meu afilhado disse que foi ela quem provocou o marido, no meio da briga. Ela jogou álcool no corpo inteiro e desafiou o Toninho a jogar nela", disse a vizinha.
O filho de Rejane está traumatizado e, segundo Lucicleide, não fala com ninguém desde que a mãe foi internada.
Silva foi preso em flagrante e não quis dar depoimento, alegando que só falará em juízo. Ele se recusou a dar entrevistas. Policiais afirmaram que ele contou ter usado um isqueiro para queimar a mulher, mas teria dito que o que ocorreu foi um acidente.
Segundo Lucicleide, o casal estava discutindo em voz alta. Por volta das 20h Rejane saiu correndo pelo quintal gritando por socorro.
"Ela já não tinha mais roupas, de tão queimada. Só gritou muito e disse que havia sido o Toninho, que estava bêbado, quem tinha feito aquilo. Enrolamos a Rejane num lençol e levamos para o hospital", disse.
O marido de Lucicleide, o pedreiro Severino Rodrigues, 34, acha que a briga aconteceu porque Rejane teria chegado tarde em casa, por causa da greve de ônibus que ocorreu na cidade anteontem.
"Ele trabalhava 14 horas por dia, durante a noite, e naquele dia estava de folga. Ficou nervoso porque a mulher chegou tarde, e aí já viu", disse Rodrigues.
Os dois vizinhos afirmaram que dificilmente viam o compadre beber ou ser violento.
Segundo o médico responsável por Rejane, Antônio Rinaldi, ela está consciente, mas não quis contar o que aconteceu.
"Ela só disse que foi um acidente", afirmou o médico. Segundo ele, ainda não é possível prever quando Rejane sairá do hospital, porque ela ainda corre risco de vida e sente dores intensas.
11 casos
Este é o 11º caso envolvendo incêndios criminosos no país, desde que o índio pataxó Galdino dos Santos foi queimado por cinco rapazes enquanto dormia numa parada de ônibus, em Brasília, em 21 de abril.
Duas pessoas morreram e nove tiveram queimaduras graves.
Só em São Paulo, foram seis casos desde o início do mês.
O caso mais recente foi o do aposentado Paulo Filinto da Silva, 65, que foi encontrado com o corpo totalmente carbonizado no quintal de casa. A polícia não tem suspeitos.
Dois dias antes, a mendiga Alciléia Aparecida Soares, 32, teve os cabelos e parte do corpo queimados enquanto dormia na rua. A polícia suspeita que o atentado tenha sido vingança de um outro mendigo.

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