São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Possibilidade de falha da PM é admitida

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O coronel Claudionor Lisboa, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, e o secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, admitiram ontem a possibilidade de ter havido falhas na operação de reintegração de posse promovida pela PM na zona leste (SP), que terminou com a morte de três pessoas.
Ao ser perguntado sobre o motivo de a tropa de choque, especializada em distúrbios civis, não ter sido enviada em número suficiente para a Fazenda da Juta no dia do conflito -fato que acabou acontecendo no dia posterior-, Afonso da Silva, mostrando irritação, foi categórico. "Porque não foi pedido. Quem pede é o comando de área. Erro ou não, será uma coisa que vai se apurar."
Afonso da Silva deu a declaração após encontro, no Palácio dos Bandeirantes, com representantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Lisboa, que também participou da reunião, revelou que a tropa envolvida no conflito, em sua grande parte policiais do 21º Batalhão, nem sequer estava posicionada no momento do confronto.
Ao responder por qual motivo os PMs que realizaram a integração de posse estavam armados, Lisboa disse: "Nesse caso houve uma particularidade. A tropa ainda não havia nem se postado no terreno quando o entrevero aconteceu."
Lisboa não souber dizer, no entanto, por que os PMs entraram em confronto, e não recuaram, se não estavam posicionados.
"Olha, nós não sabemos ainda quem atirou. Nós estamos com 97 armas da Polícia Militar, apreendidas dos policiais que participaram da operação. Vamos aguardar os inquéritos que deverão apurar isso. Logicamente, os fatos deverão vir à tona, com os depoimentos e com os exames periciais, que são extremamente importantes para a elucidação dos fatos", afirmou.

Armas frias Lisboa afirmou desconhecer as denúncias, feitas anteontem por sem-teto, de que cada PM portava duas armas, uma delas supostamente fria. Se isso realmente for verdade, os exames de balística -que determinam de quais armas saíram os tiros que mataram as três pessoas- ficam prejudicados.
"Nas cenas que eu vi, não presenciei, em nenhum instante, duas armas. Eventualmente poderia ter sido utilizada uma segunda arma, em atitudes não registradas pelas câmeras. Se isso ocorreu, os inquéritos civil e militar esclarecerão."
Walter Feldman, secretário da Casa Civil, considerou graves as denúncias. "Acho muito estranho, mas cabe uma belíssima investigação, porque isso é muito grave", afirmou.
O secretário declarou também que existe a possibilidade de o governo do Estado indenizar as vítimas do conflito. "Havendo culpa manifesta da PM, haverá indenização, mas os inquéritos precisam confirmar a culpa."

Falhas Feldman afirmou ainda que todas as dúvidas envolvendo o caso serão investigadas. Ele declarou isso ao comentar se houve ou não falhas de procedimento do subcomandante-geral da PM, coronel Carlos Alberto da Costa, que não teria enviado número suficiente de policiais da tropa de choque no dia do conflito com os sem-teto.
A tropa de choque é diretamente subordinada a Costa. "Há rotinas nítidas dentro da corporação. Foi pedido o reforço e ele foi enviado. Não vejo falhas do coronel Carlos Alberto", declarou Lisboa. Costa não foi localizado ontem.

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