São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Mais velho "filho da Aids" faz 13 anos

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O menino Leandro, alto, esperto, bom aluno, 7º série, com namoradinha "firme", fez 13 anos ontem. Nada de especial se Leandro (o nome é fictício) não fosse o mais velho filho da Aids no país. Ele é considerado o mais longo sobrevivente entre as crianças que pegaram o HIV da mãe, ao nascer.
O aniversário teve bolo na casa modesta da zona sul de São Paulo onde mora com os avós e comemorações no Hospital Emílio Ribas, onde Leandro chegou em 1985 com uma infecção pulmonar.
Em Salvador, a médica Marinella Della Negra fez um brinde em sua homenagem. Marinella foi a primeira a tratar de Leandro. E, agora, as crianças com Aids têm uma boa notícia.
Dois inibidores de protease -a última das drogas contra o HIV- passam a ter formulações especiais para crianças. E estudos confirmam que remédios da família do AZT -a primeira droga anti-retroviral- apresentam melhores resultados e menores efeitos colaterais em crianças.
Nos próximos dias 5 e 6, especialistas em Aids infantil estarão reunidos em Brasília para estabelecer um "consenso" pediátrico -vão definir quais os remédios e quando devem ser dados às crianças.
"Certamente um inibidor de protease deverá ser incluído em algumas situações", defende Heloisa Marques, médica do Instituto da Criança do Hospital as Clínicas que acompanha 120 crianças com Aids e 80 bebês filhos de mães soropositivas.
Significa que o coquetel, que vem trazendo esperanças aos adultos, passará a ser oferecido também às crianças. Marinella, que há anos alimentava a esperança de ver suas crianças tirando diploma do colegial, já espera ser a madrinha de casamento de alguns deles.
Até agora, o consenso pediátrico do Estado de São Paulo sugeria combinações de duas drogas, AZT mais DDI, AZT mais 3TC ou D4T mais 3TC. O menino Leandro vem tomando uma combinação de AZT com 3TC. "Ele está muito bem", afirma Marinella. "Se tiver problemas, poderá receber um inibidor de protease."
A médica diz que alguns estudos já definiram as dosagens indicadas para crianças e mostraram que não há toxicidade nem efeitos colaterais importantes. "O que não sabemos ainda é o momento ideal para se começar a terapia tríplice."
Essas perguntas devem ser respondidas pela pesquisa coordenada por Sharon Nachman, da Universidade de Nova York, que vem acompanhando 300 crianças. O estudo, patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde, é o maior em andamento com crianças e deve colher os primeiros resultados no próximo mês.

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