São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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Assassino planejava matar mais dez

PAULO MOTA; FÁBIO GUIBU; PAULO FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO GONÇALO DO AMARANTE (RN)

Matador do RN chegou a ameaçar os pais e o irmão e só não os matou porque policiais chegaram a sua casa

O comerciante Genildo Ferreira de França, 27, que matou pelo menos 14 pessoas entre a quarta e a quinta-feira passadas, em São Gonçalo do Amarante (RN), planejava matar pelo menos outras dez, entre elas seu pai e sua mãe.
A revelação foi feita pelo ceramista Francisco de Assis Santos, preso ontem pela manhã na cidade, acusado de ter ajudado França a matar pelo menos cinco pessoas.
"Genildo disse que iria matar todos os que lhe deviam dinheiro e os que tinham espalhado que ele era fresco. Além dos que morreram, tinha pelo menos uns dez marcados para morrer", disse Ramos.
Segundo o irmão do assassino -Genilson Ferreira de França- declarou à Agência Folha, Genildo França chegou por volta das 6h de anteontem à casa dos pais, José Ferreira e Maria do Carmo, com a intenção de matá-los.
"Genildo levou meus pais para o quintal e apontou as armas para matá-los. A sorte é que, nesse momento, chegaram uns policiais à porta da frente e ele foi enfrentá-los", declarou Genilson.
Genilson disse ainda que chegou a perguntar a França por que estava querendo matar os pais. "Ele respondeu que todos de nossa família deveriam morrer para não sofrer com o que ele estava fazendo", contou.
Segundo Genilson, França havia lhe dito várias vezes que pretendia "fazer uma viagem" com todos aqueles que haviam destruído sua "honra" como homem.
"Genildo sempre dizia que o seu sogro, Baltazar Jorge de Sá, era quem mais espalhava o boato de que ele era gay", disse Genilson.
Sá foi a segunda vítima de França. A primeira foi o taxista Francisco Marques Carneiro, proprietário do carro usado por França quando praticava a maioria dos crimes.
Segundo a polícia, França tomou o carro de Carneiro entre 16h e 18h. Em seguida, pegou a adolescente V.R.S., 16, e Santos, ambos no distrito de Santo Antônio de Potengi.
Por volta das 20h de quarta-feira, França passou na casa de Sá e o convidou para ajudá-lo no parto de uma vaca. O corpo de Sá foi encontrado, no dia seguinte, num matagal perto de Santo de Antônio de Potengi.
Quando passou na casa de Sá, França estava na companhia da adolescente, de Santos e de Elias dos Anjos Pimenta, um ceramista que lhe devia R$ 10,00. O corpo de Pimenta foi encontrado junto ao de Sá.
A polícia acredita que França matou os agricultores Manoel Brito Marcolino, João Maria de Lima e Edilson Carlos do Nascimento por acreditar que eles tenham dito que ele era homossexual.
O agricultor Francisco José de Assis, vizinho de França, disse à Agência Folha que já tinha presenciado uma discussão entre França e Marcolino. "O Genildo dizia que ele tinha que parar de espalhar boatos sobre a sua macheza", afirmou Assis.
Marcolino estava em casa, por volta das 20h30 de quarta-feira, quando França convidou-o para ajudá-lo na compra de uma espingarda.
Lima pediu para ir junto. Os corpos dos dois foram encontrados junto ao de Nascimento, num matagal em Guajiru, lugarejo a 2 km de Santo Antônio de Potengi.
Segundo Santos, França riu antes de assassinar os três com tiros na testa e no peito, disparados a curta distância.
A adolescente V.R.S. disse que, depois de praticar os assassinatos, França se ajoelhou, pediu perdão a Deus e disse que agora estava "com a alma descansada".
Santos afirmou que França repetiu o mesmo ritual quando assassinou Baltazar e Pimenta.
O delegado de Macaíba, Sérgio Leocádio, disse acreditar que França matou a mulher, Mônica Carlos de França, entre as 21h e 23h.
Depois de matá-la, teria pedido à adolescente que escrevesse a carta na qual relata que estava matando as pessoas para provar que não era homossexual.
Maria das Dores Barbalho, irmã de Tereza Carlos de França (mãe de Mônica), afirmou que foi Mônica quem contou a Sá que desconfiava que França "tinha tendências homossexuais".
"Genildo nunca perdoou Mônica por isso. Toda vez que eles brigavam, ele dizia que, um dia, ainda ia matá-la e a toda a nossa família", disse Barbalho.
Após sair da casa onde estava Mônica, França pegou o filho Mateus, de oito meses, e o levou para a casa de sua prima, Maria dos Anjos Ferreira, 45.
Entre as 6h e as 7h, França matou o sargento Franciso de Assis Bezerra, a mãe de Mônica, sua ex-mulher Maria Valdete Rafael da Costa e sua ex-sogra Francisca Neide Rafael da Costa.
Na casa de Valdete, França pegou Nayara, 5, filha dos dois. Em seguida, França voltou à sua casa. Procurou o vizinho conhecido por Aruanã e lá encontrou Flávio Silva de Oliveira dormindo. Matou-o a tiros.
Assis disse que França queria matar Aruanã porque acreditava que ele também espalhava boatos sobre sua homossexualidade. "Ele matou Oliveira para não perder a viagem. Oliveira era mudo", disse Assis.
A polícia acredita que não existam motivos aparentes para França ter matado o caminhoneiro Fernando Correia de Sousa.
"O França saiu de sua casa e atirou no primeiro carro que passou. A única coincidência é que Sousa morreu no mesmo lugar onde o filho de França, Iuri, foi atropelado e morto", disse.
Segundo Leocádio, o mensageiro Antônio Josemberg Campelo foi a última vítima de França. "Ele morreu por acaso, simplesmente porque cruzou com França na rua", disse Leocádio.

Colaborou Paulo Francisco, free-lance para a Agência Folha, em Natal

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