São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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Lacroix mostra seu liquidificador fashion

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

O estilista francês Christian Lacroix encheu os olhos do público de moda anteontem à noite, com seu desfile na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), no bairro do Pacaembu (região central).
Primeiro, num caso como esse, é preciso superar classificações simplistas e até maniqueístas. Gostar ou não gostar do estilo Lacroix não faz diferença. Cabe aqui admirar o intenso trabalho de moda e talento criativo do estilista, que apresentou aos brasileiros suas quatro linhas.
Jeans, Bazar, prêt-à-porter e alta-costura são seus desdobramentos, todos com a qualidade de acabamento e de material exigida pelo inexorável e competitivo Planeta Fashion.
Ver roupas desse nível de tão perto em passarelas brasileiras sempre provoca exclamações.
Pena que o casting não estivesse à altura. As dramáticas roupas de Lacroix exigem um pouco mais de tarimba de passarela -Tatiana Abraços (exótica!; parecia uma modelo de Dior), Alessandra Berriel, Caroline Magalhães e Geanne Albertone seguraram.
Como características, Lacroix é o mestre internacional da miscelânea. Como ele mesmo disse na palestra em São Paulo (leia texto abaixo), seu liquidificador criativo mistura tecidos, texturas, cores e referências. Proporciona surpreendentes imagens de mulher, no decorrer da sábia edição do desfile: "melindrosas", princesas árabes, ciganas, futuristas, dançarinas de discoteca, entre outras menos óbvias.
Nos quatro segmentos, frufrus, bordados e rendas ganham especial participação na coleção, pontuando as roupas como em luvas, saias e colãs, com inteligente uso das cores.
Controlando com mão firme seu estilo barroco, teatral e às vezes exagerado, Lacroix se mantém contemporâneo. O traço é sempre sensual e feminino, em saias com fendas, justas ao corpo, revelando e seduzindo.
A atenção aos detalhes é uma constante, como nos delicados sapatos (são uma diversão as botas de salto metálico anabela, quase dadaístas). Humor: uma bolsa lembra a forma de um ferro de passar roupa. Um bom momento é o vestido em verde, azul e amarelo, um patchwork feito de sobreposições em crochê de lurex.
O final, em alta-costura, traz vestidos de noite únicos, em estilo boudoir de luxo. Remetem a um universo de riqueza irreal que tem como função levar adiante o sonho e o desejo da moda.

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