São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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Ex-secretário acusa Lula e Dirceu de ajudar empresa

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo de Tarso Venceslau, 53, petista que foi secretário municipal nas administrações do partido em Campinas e São José dos Campos, acusa a direção da legenda de ser conivente com um esquema de corrupção que, no final da ponta, financiaria atividades do PT.
A denúncia de Venceslau foi publicada no "Diário do Povo", de Campinas, no último dia 18, e no "Jornal da Tarde", de São Paulo, na edição de ontem.
A Cpem, ainda segundo Venceslau, é dirigida de fato por Roberto Teixeira, um advogado amigo de Lula. O líder petista mora em São Bernardo do Campo em casa cedida por Teixeira.
"O Paulo Okamoto me disse que a Caravana da Cidadania do Lula, em 93, quase não saiu porque a Cpem não repassou o dinheiro prometido por causa dos problemas que eu criei para eles quando era secretário em São José", disse Venceslau.
Campanha
Okamoto é um dos homens de confiança de Lula. A caravana citada por Venceslau serviu como ponto de partida para a campanha presidencial de Lula em 94.
Em 93, Venceslau e a administração petista questionaram um contrato da empresa representada por Teixeira com a Prefeitura de São José dos Campos. O compromisso fora firmado por prefeitos anteriores, que não eram do PT.
Venceslau achou exorbitante os cerca de US$ 16 milhões que a prefeitura local teria que pagar à Cpem caso aceitasse os termos do contrato. A Cpem era responsável pela revisão do cálculo do chamado valor adicionado, principal item para se chegar até a cota-parte que cada município receberá do bolo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
A empresa defendida pelo amigo de Lula ganhava 20% do que conseguisse apurar em erros das empresas. "Teixeira queria que os contratos fossem feitos sem licitação", afirmou Venceslau. Antes de questionar o contrato, o então secretário municipal disse que foi pressionado por lideranças petistas para manter o compromisso com a empresa representada pelo amigo de Lula.
Venceslau tem documentos que provam que a direção petista sabia do caso. Na verdade, a polêmica com a Cpem começou em 90, quando Venceslau era secretário da Fazenda da Prefeitura de Campinas, comandada pelo então petista Jacó Bittar.
"O Jacó me levou até o Lula para que ele tentasse me convencer que a contratação da Cpem era legal", declarou Venceslau. Ainda de acordo com ele, Lula agendou uma reunião entre o à época secretário campineiro, Teixeira e Okamoto para tentar, sem sucesso, um acordo.
Relações espúrias
"O Lula se transformou num caudilho e não vou desistir de mostrar as relações espúrias entre a empresa representada por Teixeira e as administrações petistas", disse Venceslau.
Pelo relato dele, Lula e Dirceu foram informados das irregularidades cometidas pela Cpem (leia texto ao lado) e não tomaram providências. "Registrei em cartório uma carta endereçada ao Lula. O Dirceu acompanhou tudo e ninguém fez nada", disse Venceslau.
O embate com a empresa ligada ao amigo de Lula custou a Venceslau, na sua versão, o cargo de secretário de Finanças da Prefeitura de São José dos Campos.
"Não ia me calar diante das irregularidades só porque o Lula tem relações espúrias com o Roberto Teixeira", declarou Venceslau.
Na entrevista concedida ontem à Folha, o ex-secretário petista afirmou também que não tem prova sobre eventual repasse de dinheiro da Cpem ao PT. "Só sei que denuncio as ligações de Teixeira com isso há muito tempo e nada foi feito para apurar", afirmou.
"Meti a mão numa casa de marimbondo. Lula e Dirceu se transformaram nos caras mais reacionários do país quando encobriram falcatruas", disse Venceslau.

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