São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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CAIXA PRETA FINANCEIRA

As evidências de ilegalidades financeiras e de leniência do Banco Central do Brasil na supervisão do sistema bancário, recolhidas em reportagem da Folha no último domingo, obrigam a um debate sobre certos tabus da "caixa preta".
A independência do Banco Central é um princípio fundamental nos países nos quais a defesa da estabilidade monetária é levada a sério. Como executor da política monetária, a independência do banco central em relação ao Tesouro é crucial.
Mas, se o que está em jogo é a supervisão do sistema bancário, que se discuta a questão da independência entre o BC e o sistema bancário.
Esse tema, entretanto, tem sobrevivido às tentativas de debate e, certamente, é o lugar no qual a imagem do BC como uma "caixa preta" assume uma conotação mais negativa.
Não se trata apenas de sugerir ou supor que em vários casos, das operações de emissão de precatórios à evolução verdadeiramente criminosa de operações sob a bandeira de bancos como o Nacional e o Econômico, entre outros, o BC tenha faltado com a responsabilidade pela supervisão.
Há também vícios estruturais, como o de auditar as instituições pelo prisma contábil, burocrático, formal, enquanto sob as barbas dos auditores houve margem para manipulações que ainda custarão caro a toda a sociedade brasileira.
No Reino Unido, no último dia 20 de maio, o novo gabinete trabalhista teve a ousadia de retirar do Banco da Inglaterra as funções de supervisão. Alguns analistas chegaram a qualificar a decisão de "castração" da instituição que é a origem e o primeiro modelo de banco central.
Se no berço dos bancos centrais admitem-se mudanças dessa ordem, não há razão para supor que a instituição não possa mudar no Brasil, onde o grau da delinquência de colarinho branco atingiu níveis tão insuportáveis quanto a impunidade que afinal a estimulou nos últimos anos.
A separação entre política monetária e supervisão do sistema financeiro pode dar mais independência ao BC, que, se assim se sentir castrado, ao menos terá menos chances de errar tanto como no passado recente.

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