São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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MAL-ESTAR EUROPEU

Em um mesmo mês, a Europa assistiu a vitórias eleitorais de partidos que se autodefinem como social-democratas, no Reino Unido e na França. Aparentemente estaria ocorrendo uma virada política relevante.
Não se pode evidentemente prever qual seria o comportamento de um eventual governo socialista na França. É também difícil avaliar se os franceses cansaram-se especificamente da experiência liberal de governo, aliás pouco radical, ainda que devam ser levados em conta os protestos e greves de 1995.
O que parece mais evidente na política européia é um mal-estar generalizado em relação ao que os franceses chamam de "morosité" -o crescimento medíocre da economia e a subsequente crise do emprego-, além da insatisfação com governos desgastados por anos de poder.
O premiê trabalhista britânico Tony Blair é chamado de "Tory" (conservador) Blair. Antes da eleição, tosou todo o radicalismo do programa de seu partido -foi com esse ideário que chegou ao poder. Romano Prodi, primeiro-ministro que lidera uma coalizão de centro-esquerda, quer colocar a Itália no caminho da unificação monetária européia, aderindo, para tanto, às receitas neoliberais. Na Espanha, desemprego e escândalos derrubaram os socialistas.
Pode-se dizer que a esquerda francesa é ainda a mais renitente da Europa e os franceses, os mais aguerridos na defesa do Estado de bem-estar social. No entanto, o governo socialista dos anos 80 aos poucos abriu mão de levar a cabo o seu programa estatizante, herança ainda dos anos 60, para fazer face às exigências da integração européia e da mundialização da economia. Resta saber se, no passo acelerado da globalização, o Partido Socialista será capaz de resistir à onda neoliberal. Ainda que seja, os governos da Europa como um todo permanecem na chamada linha liberal, embora mitigada sob rótulos mais à esquerda.

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