São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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Perfil acadêmico

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - No auge das investigações sobre os precatórios, comentaristas da TV e dos jornais mais deslumbrados com o governo caíram em cima de Paulo Maluf, que havia fugido a fim de se livrar da crise que ainda o ameaça.
Ele já estava no exterior quando o escândalo estourou. Agendara-se para outros compromissos lá fora; mesmo assim, foi classificado de fujão. A CPI continua, em ritmo menos espetacular (foi superada por escândalo maior). Com o prosseguimento das investigações, sendo culpado ou inocente, aqui ou no exterior, Maluf terá a oportunidade de provar sua inocência ou expiar sua culpa.
Os mesmos comentaristas da TV e dos jornais, tão histéricos ao condenar Maluf, são veementes em proclamar "a agenda patriótica" do ministro das Comunicações que o levou ao exterior. Ele vai trabalhar pelo Brasil. Não está fugindo porque não tem do que fugir.
Seu nome foi "apenas" citado num caso de suborno. Os subornados já renunciaram a seus mandatos. O presidente garantiu que não permitirá corrupção -nunca houve governante na história do mundo que proclamasse o contrário. Não há motivo para considerar Sérgio Motta um fujão. É um abnegado, que se sacrifica pelo bem do povo.
O episódio da compra de votos para aprovar a reeleição terá o mesmo destino de outros escândalos. Alguém vendeu uma coisa que ninguém comprou. Tivemos no passado recente esse tipo de negociação, mas ficamos sabendo quem vendia e comprava. Collor e PC dançaram.
FHC propôs-se a ser tão diferente deles que está começando a ficar igual. Uma CPI poderia reabilitá-lo. Caso contrário, ficará para sempre como o Collor que ainda está dando certo. Seus arautos na mídia se esbofam para realçar seu perfil acadêmico quando, na realidade, com suas espertezas fisiológicas, ele está ficando cada vez mais próximo dos acadêmicos do Salgueiro (peço desculpa aos salgueirenses e, em especial, ao Fernando Pamplona).

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