São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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O OCIDENTE AVANÇA

A Rússia aceita a expansão da Otan (a aliança militar ocidental liderada pelos EUA) até os países do extinto Pacto de Varsóvia (união bélica comandada pela ex-URSS). A Guerra Fria terminou de vez em 1989, com a queda do Muro de Berlim, mas, ainda assim, o acordo russo com a Otan tem relevância geopolítica.
Com o esfacelamento da URSS, a Otan perdeu sua razão precípua de existir. De pacto defensivo, passou a ser um braço entre policial e militar da nova ordem mundial na Europa: ainda que sob a égide da ONU, pela primeira vez a Otan foi incumbida de agir fora do território de seus países-membros -na Iugoslávia. E, sendo o Leste Europeu, com democracias frágeis, tensões regionais e étnicas, endereço provável de futuros investimentos do Ocidente, seria preciso um colchão militar que pudesse prevenir novos conflitos como o dos Bálcãs, que afugentariam os capitais. O acordo com a Rússia poderá permitir estender o serviço de segurança fornecido pela Otan.
Ao pretender aderir ao pacto militar ocidental, as nações da Europa mais pobre, por sua vez, visariam alcançar dois objetivos. O mais imediato seria encontrar proteção contra um eventual ressurgimento do pan-eslavismo russo -temor polonês, por exemplo. A entrada na Otan é também um vestibular para a adesão, ainda remota, à União Européia.
Já a Rússia, durante o teatro que fez para aceitar a expansão da Otan, tratava de obter o máximo possível de vantagens em troca dessa concessão. O anúncio, por parte de Ieltsin, de que desarmaria os mísseis nucleares apontados para a Europa foi um show de mídia, mesmo que simbólico. Computadores podem facilmente armar de novo o gatilho.
Enfim, a estratégia ocidental de diminuir a tensão no extinto bloco comunista encerra um risco: conta demais com a manutenção de Ieltsin -ou alguém com seu perfil- à frente da Rússia. Sem tradição democrática, sob a sombra do nacionalismo e do comunismo, a região só será estável quando a Rússia resolver sua crise econômica. O desafio é enorme.

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