São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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CONTENÇÃO EM PARCELAS

A economia brasileira parece patinar numa trajetória indefinida. Mas a falta de rumo talvez agrave desajustes cuja correção vem sendo adiada. Desde o final de 96 a economia nem cresce muito nem entra em recessão. O próprio desemprego em alta limita o crescimento a no máximo 3%.
Alguns dos observadores e instituições do mercado financeiro, diante de um quadro de moderação do crescimento e do consumo, já começaram a reavaliar suas projeções de déficit comercial em 1997. Se antes havia previsões de excesso de importações de até US$ 15 bilhões, agora há estimativas situadas no intervalo entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões.
No entanto, o Indicador de Nível de Atividade (INA) da Fiesp registrou em abril alta de 8,2% sobre abril de 96, o que sugere que as compras externas continuam elevadas.
Em resumo, o momento pode ser caracterizado como um meio-termo entre contenção ampla e aquecimento localizado. Resta saber se é possível mantê-lo ao longo do tempo.
A economia não se desaquece mais rapidamente porque há uma reposição de estoques combinada a uma oferta impressionante de crédito ao consumo. E a política industrial favorece setores como os de automóveis e eletroeletrônicos, exatamente os mais intensivos em importações (de peças, componentes e máquinas).
Durante meses o governo argumentou que era ridículo apavorar-se com resultados diários, semanais ou mensais da balança comercial. O argumento é mais válido do que nunca, agora que o governo insiste em alardear reduções parciais do déficit, sugerindo que teve virtudes e foi mesmo benigna a sua negligência em relação às contas externas.
A calmaria dessa política de contenção em parcelas lembra o "feijão com arroz" de outrora. Se, por exemplo, houver uma alta dos juros internacionais ou uma redução do crédito externo, a mesmice semiconfortável será rapidamente posta em questão.
E é bom lembrar que em geral é maior o custo da correção tardia.

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