São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 1997
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O nhenhenhém do PT

RUI NOGUEIRA

Brasília - A ânsia maior de quem está no poder é uma só: que todos, à sua volta, sejam condescendentes com seus erros. E os poderosos do PT não são diferentes dos poderosos do PSDB, PMDB, PFL, qualquer partido, qualquer cidadão.
Não fosse essa ânsia pela condescendência, os parlamentares e as lideranças petistas não estariam hoje praticando um esquisito contorcionismo verbal para fazer crer que o relacionamento da empresa Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios) com administrações municipais do PT está acima de qualquer suspeita.
Não está, e o PT se encarregou de reforçá-la ao não contar a história até o fim quando as denúncias foram feitas pela primeira vez, em 95. O próprio José Dirceu, presidente nacional do partido, penitenciou-se do erro na segunda-feira passada.
Não contar uma história até o fim equivale a não encerrar o assunto. Para a escritora norte-americana Joan Aiken, as pessoas lêem jornais porque gostam de ler histórias e gostam de ler histórias porque gostam de saber o final.
São coisas da vida. Ainda que o ex-secretário petista Paulo de Tarso Venceslau não viesse a público ressuscitar o que parecia esquecido, outra boca daria vida a uma história sem fim, porque mal contada da primeira vez.
Agora, com a mulher de César tendo de provar que, além de ser honesta, também parece honesta, os caciques do PT caminham sobre evasivas e subterfúgios e praticam o esporte do nhenhenhém. Aceitam uma CPI para investigar o caso Cpem se os governistas toparem abrir a CPI do mercado do voto. Aceitam uma CPI para investigar o PT se a CPI investigar também o financiamento de todos os partidos.
Nesse caso, os petistas devem saber que, se o presidente Fernando Henrique, sem a CPI do mercado do voto, terá sempre de explicar a votação da reeleição, eles, sem a investigação do caso Cpem, terão sempre de explicar o caso Cpem.
É a regra do jogo político. Quem com nhenhenhém fere, com nhenhenhém será ferido.

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