São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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Fiocruz pode deixar de produzir vacina

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O tratamento das pessoas que sofrem de malária e filariose ficará comprometido no segundo semestre deste ano se o Ministério da Saúde não quitar uma dívida de R$ 30 milhões com a Fiocruz (Fundação Instituto Oswaldo Cruz).
A Fiocruz é a única produtora mundial de primaquina e cloroquina (medicamentos usados no combate à malária) e da dietilcarbamazina (contra a filariose). A falta de verbas também ameaça a produção de remédios contra doença de Chagas, leishmaniose, esquistossomose e tuberculose.
A situação dos doentes de malária e filariose é mais grave. Se a Fiocruz deixar de produzir os remédios, não há como comprar de outros laboratórios.
A primaquina, a cloroquina e a dietilcarbamazina são "medicamentos órfãos": nenhum laboratório quer fabricá-los porque o custo é alto e os consumidores em potencial são de baixa renda.
Além da produção de medicamentos contra doenças endêmicas, o corte ameaça também a fabricação de vacinas e as pesquisas para o desenvolvimento de novas tecnologias de diagnóstico e cura de doenças tropicais e endêmicas.
A construção de uma fábrica de vacinas está parada porque faltam R$ 10 milhões para concluir a obra. A fábrica permitirá que a Fiocruz produza as vacinas tríplice (contra coqueluche, tétano e difteria), contra febre amarela e meningite.
Os problemas financeiros na Fiocruz começaram em dezembro passado, quando R$ 30 milhões do orçamento da fundação foram remanejados pelo Ministério da Saúde para pagar os hospitais conveniados.
Na época, o ex-ministro Adib Jatene havia garantido que o dinheiro seria reposto no início de 97, o que não aconteceu. Sem os R$ 30 milhões, a Fiocruz teve de usar o dinheiro do orçamento deste ano para quitar dívidas.
A situação se agravou em fevereiro, quando foram cortados mais R$ 12 milhões.
O presidente da Fiocruz, Elói Garcia, afirmou que está negociando com o Ministério da Saúde o pagamento dos R$ 30 milhões.
"Eles estão muito preocupados com a reposição dos R$ 30 milhões. Estamos negociando, e o ministério prometeu dar uma resposta até 30 de junho", disse Garcia.
O dinheiro que a Fiocruz tem hoje só permite o funcionamento normal do órgão até agosto. Segundo Garcia, os R$ 12 milhões que foram contingenciados também poderão ser liberados. "Tudo vai depender da arrecadação do governo", disse.
Apesar das promessas, a Fiocruz já está estudando alternativas de financiamento extra-orçamentárias.

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