São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estímulos à indústria do software

LUÍS NASSIF

A indústria de software é das mais relevantes na atual quadra de desenvolvimento mundial. O Brasil tem amplas condições de consolidar-se no setor. No entanto, ainda não descobriu mecanismos eficientes de estimular o setor.
Essa é a conclusão do trabalho "Setor de Software: Diagnóstico e Proposta de Ação para o BNDES", de Paulo Roberto de Sousa Melo e Carlos Eduardo Castello Branco, respectivamente gerente e engenheiro da gerência setorial do Complexo Eletrônico do BNDES.
Na primeira parte, o trabalho procura descrever o que é a indústria de software -os programas utilizados em computadores. São agrupados em cinco tipos diferentes:
1. software sob encomenda, que atende a necessidades específicas de clientes;
2. software horizontal é aquele de uso geral, que incorpora, principalmente, conhecimentos de informática, como sistemas operacionais, bancos de dados, processadores de texto, as planilhas etc.;
3. software vertical, que incorpora conhecimentos de uma ou mais especialidades, além da informática;
4. software aplicativo, que caracteriza-se por não ser de uso geral e se destinar a alguma aplicação, podendo ser um pacote ou sob encomenda;
5. software embarcado é comercializado embutido em outros produtos -máquinas e sistemas para automação industrial, testes, telecomunicações etc.
Possibilidades
As possibilidades para o Brasil surgem a partir das seguintes características da indústria de softwares.
Primeiro, as novas tecnologias, necessárias para o desenvolvimento de softwares, se têm revelado menos complexas para os que desenvolvem novos produtos.
Segundo, há uma tendência cada vez maior das grandes corporações de buscarem produtos no mercado internacional, como ocorre com a Índia. Ou, então, de adaptarem produtos internacionais às características de cada mercado.
O Brasil poderia se colocar bem no mercado de nichos. Mas a principal dificuldade para criar um setor competitivo é a ausência de mecanismos de capitalização das empresas.
Segundo dados da Price Waterhouse, no biênio 95-96 o setor de software e informação, nos EUA, foi o que mais recebeu recursos de capital de risco -US$ 1,3 bilhão em 1995 e US$ 2,2 bilhões em 1996, contra US$ 1,4 bilhão e US$ 1,8 bilhão, respectivamente, da indústria de comunicação. Cerca de 30% desse total foram efetuados em empresas em fase de concepção ou em estágio inicial de operações.
Mercado brasileiro
No caso brasileiro, o setor ainda é pouco conhecido. A maior empresa brasileira -Datasul- tem faturamento modesto, da ordem de R$ 40 milhões por ano. Dados do Programa Nacional de Software para Exportação (Softex), no entanto, indicam um total de 3.500 empresas, com vendas estimadas em US$ 2,5 bilhões em 1995, com 110 mil empregados, sendo 55% de nível superior.
O trabalho constata que o BNDES até hoje não descobriu como trabalhar esse setor. Os dois instrumentos de que o banco dispõe são o Contec (fundo que investe em pequenas e médias empresas com alto conteúdo tecnológico) e, agora, os Fundos de Empresas Emergentes, que começam a ser constituídos, mas ainda assim insuficientes para alavancar pequenas e microempresas do setor.
A partir dessa análise, o trabalho sugere a criação de um Programa de Apoio ao Setor de Software, que se iniciaria a partir de um projeto-piloto com verbas de R$ 30 milhões.
O projeto funcionaria na modalidade de "venture capital" (capital de risco), sob a lógica de administração de carteira. Os financiados pagariam o principal, sem correção monetária, acrescido de uma renda variável, equivalente a um percentual do acréscimo de receita da empresa, decorrente dos investimentos efetuados.
O trabalho sugere que o BNDES descentralize a análise técnica de cada operação, permanecendo apenas como instância final. O próprio Softex poderia conduzir esses trabalhos de análise. O BNDES participaria dos fóruns de aprovação dos planos e faria a coordenação nacional do processo.

Email: lnassif@uol.com.br

Texto Anterior: Bird vê fluxo crescente de dólares
Próximo Texto: Bradesco capta US$ 300 mi para financiar exportações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.