São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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Cena underground precisa se mexer

ERIKA PALOMINO

A cena club em São Paulo vive momento dramático. Como disse o próprio DJ Mau Mau, numa reportagem nesta semana na "MTV", está tudo muito underground. Só que as noites da cultura underground estão um tédio.
Ninguém quer ir, há no ar a sensação de que "não tem nada para fazer" e fica ainda esse problema de pagar ou não pagar, ser ou não VIP etc.
Outro problema é que os clubes underground são véios de guerra para todo mundo, dá mesmo a sensação de que a noite é sempre igual. (São Paulo não é Nova York, mas nas duas cidades tem sempre gente reclamando que "não tem nada acontecendo".)
Do outro lado, na linha dos superclubes abertos com pompa em novembro, a fórmula está dando pala. O Betty Boom dá sinais de desencontro, encerrando as duas noites do underground que até então abrigava: a Breakin', de Mau Mau e Pareto, e a Space Disco, projeto solo de Pareto.
O Florestta enfrenta problemas de divulgação e de som, por exemplo. Na festa da Kaos, semana passada, o povo teve que se jogar para a frente da caixa para tentar ouvir melhor: em frente à cabine a música era baixíssima (o lugar hype para ficar no clube é ali os sofás no palquinho da pista, perto da entrada. Assim ninguém precisa usar a chapelaria e tem onde sentar.)
A tentativa utópica do ecletismo também não tem funcionado e os guetos estão de volta. Por isso, iniciativas como as Festas do Sítio e as festas menores, como a Homemade (já em sua segunda edição), de Simone, Careca e Luiz, fazem mais sucesso e conquistam a simpatia das pessoas. O convite desta festa recupera o humor nos flyers que já foi marca da noite em São Paulo e conclama a pagar "a merreca dos R$ 5".
A tese "tecno para as massas" continua esquisita. A tomar por Robert Miles no clube B.A.S.E. O povo da noite e do underground em si torceu o nariz, mas há que se respeitar todo mundo satisfeito: Miles tocando handbag e a tal "dreamhouse", (insuportável) fenômeno detonado por ele mesmo na cena internacional. Mixando direitinho, ganhando dinheiro com isso e não enganando ninguém. Tudo certo. (Com exceção, talvez, de a casa cobrar o preço do ingresso meio alto, R$ 40).
Outro fenômeno atual é o fundamento dos cinco reais. Tudo o que tem dado certo custa R$ 5. Tipo o Chill-in e a noite Hot Stuff, no bar The Cube, que espertamente catou o momento aleijo e criou um crossover de bar/clube, após as 2h/3h, que é quando as pessoas chegam aos clubes mesmo, em São Paulo.
Por outro lado, ao menos as pessoas do underground estão menos preconceituosas e teve muita gente que foi, por exemplo, à festa de Miles.
E assim vice-versa: a nata do mainstream tem também circulado em outros ambientes, seja para "dar uma força", ver como está ou variar de lugar.
É hora dos promoters e donos de casas noturnas tentarem novas soluções. De investir em equipes de divulgação e promoções para trazer as pessoas de volta aos clubes. São Paulo está cheia de bons DJs, mal aproveitados e/ou valorizados. A cultura club precisa existir também dentro dos clubes.

AlÉM de poder acessar Noite Ilustrada via Internet, através do Universo on Line, esta coluna agora tem e-mail: palomino@uol.com.br

Ainda, você pode ligar para o Folha Informações Ilustrada e conferir um animado roteiro da noite em SP. O telefone é 0900-78-0311. A ligação custa R$ 2 por minuto.

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