São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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Futebol vira cinema em "Boleiros"

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ugo Giorgetti está na quarta semana de filmagens de seu novo longa-metragem, "Boleiros".
O filme, que deve ficar pronto no segundo semestre, conta seis episódios envolvendo o futebol, cada um deles relacionado com um clube de São Paulo (leia sinopses).
As histórias são evocadas por um grupo de ex-jogadores, em torno de uma mesa de bar. No elenco estão Lima Duarte, Otávio Augusto, Marisa Orth, Adriano Stuart e Flávio Migliaccio, além dos ex-jogadores Zé Maria e Luís Carlos, do Corinthians.
Giorgetti, que antes dirigiu "Jogo Duro", "Festa" e "Sábado", falou com exclusividade à Folha num dos sets de filmagem de "Boleiros", no hotel Crowne Plaza, onde estava sendo rodada cena com Lima Duarte e Marisa Orth.
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Folha - Como foi sua relação com os clubes?
Giorgetti - Não houve nenhum problema maior, mesmo porque as histórias independem dos clubes. O clube é uma maneira de dar veracidade ao filme. Eu não conseguiria fazer uma história em que um sujeito falasse que jogou no Pinheirinho, o outro no Bandeirante. Não dá.
Exceto no episódio referente ao Corinthians, que tratamos com os Gaviões da Fiel, falamos diretamente com os clubes e eles foram cooperativos.
Também não existe nada contra os clubes no filme. No episódio em que há uma compra de juiz, o Juventus é a vítima. O clube que suborna não é nomeado. Além disso, é um episódio de época, filmado em preto-e-branco.
Folha - No episódio do gol de placa, será usada imagem de arquivo?
Giorgetti - Sim. Compramos dos herdeiros do Dener um gol histórico dele contra o Internacional de Limeira.
Folha - Seus filmes anteriores se passavam num único ambiente. "Boleiros" tem muitas locações. Como está sendo essa mudança?
Giorgetti - Uma loucura. Saí de uma única sala direto para 28 locações, que vão desde o Crowne Plaza até a favela da vila Brasilândia, passando pela redação da Folha, estádios, restaurantes etc.
Para falar a verdade, não gosto disso. A gente não sabe fazer cinema em lugar nenhum, mas muito menos em locação. É terrível. Na rua é tudo muito confuso, você perde o controle sobre os detalhes. Vai levar ainda muito tempo para termos a disciplina e a tática para enfrentar essa guerra que é a filmagem de externas.
Folha - Sua experiência como diretor de comerciais ajudou?
Giorgetti - Muito. Já filmei São Paulo inteiro. Mas comercial é diferente: você vai lá e faz num dia. Não é uma filmagem contínua, como num longa. Se você fica muito tempo na rua, o imponderável começa a aparecer pra valer.
Quando filmávamos o episódio dos Gaviões, por exemplo, apareceu por acaso um grupo de torcedores da Mancha Verde e quis saber o que estava acontecendo. Foi uma confusão.
Folha - Você espera que o filme agrade a quem não gosta de futebol?
Giorgetti - Espero que sim, mesmo porque o filme não é só sobre futebol. Há episódios inteiros em que você não vê nem bola, quanto mais futebol. O filme usa o futebol quase como pretexto.
Se você quiser considerá-lo um filme sobre a cidade, também pode, pois eu vou da vila Brasilândia a um restaurante japonês da alameda Franca, da rua Javari ao Crowne Plaza. É um grande painel.
Outra coisa: não é preciso conhecer futebol para entender o filme. O cara só precisa saber que um pênalti é uma coisa grave, no episódio do Juventus.
Folha - Você tem o hábito de escalar não-atores -como Jorge Mautner, Tom Zé, Décio Pignatari. Em "Boleiros" também?
Giorgetti - Menos. Pelo tema do filme, tive de me render ao aspecto físico dos atores. Mas o que há de muito legal em "Boleiros" é que você vai ver um monte de atores que você nunca viu, da periferia, que fazem teatro amador e que são muito bons. Tem muito ator negro, o que é incomum no cinema brasileiro. Ou, quando é comum, são sempre os mesmos, os negros oficiais. Peguei negros não-oficiais, que eu mesmo nunca tinha visto.

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