São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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Descoberto fóssil do europeu mais antigo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os restos fósseis do mais antigo dos europeus foram descobertos por pesquisadores espanhóis em uma caverna perto de Burgos, norte da Espanha. A descoberta é ainda mais espetacular porque os fósseis foram identificados como pertencendo a uma nova espécie de ser humano, que eles batizaram de Homo antecessor.
O nome científico da nova espécie vem do fato de ela ser um "elo perdido" entre os seres humanos primitivos, conhecidos como Homo erectus, e os homens de hoje, da espécie Homo sapiens.
Os fósseis foram achados na caverna de Gran Dolina, do sítio da serra de Atapuerca, pela equipe de José Maria Bermúdez de Castro, do Museu Nacional de Ciências Naturais, de Madri. A descoberta está relatada em um artigo dele e de mais cinco colegas na edição de hoje da revista "Science".
Nova espécie
Os fósseis de Atapuerca pertencem a seis indivíduos diferentes. Foram classificados em uma nova espécie porque têm uma face de feições mais modernas, menos protuberante, que a dos Homo erectus, principalmente o fóssil batizado ATD6-69.
Eles viveram há 800 mil anos, mas já mostram formas faciais que até agora só tinham sido encontradas 650 mil anos depois.
Mas as formas mais primitivas do resto do crânio e da dentição indicam grandes semelhanças com os hominídeos mais antigos.
Ou seja, as características anatômicas dos fósseis fazem deles um perfeito elo entre os hominídeos mais velhos e os mais novos.
A ausência de fósseis completos leva a muitas especulações sobre as origens humanas, um campo ainda repleto de dúvidas.
Origens
Os "quase humanos" fósseis do gênero Australopithecus foram encontrados em vários pontos da África. Esses prováveis ancestrais do homem viveram entre 5,5 e 1 milhão de anos atrás.
Eles andavam eretos, tinham cérebro bem maior que os de macacos e não tinham dentes caninos pronunciados.
Os cientistas ainda debatem se um animal destes deu origem ao gênero dos hominídeos propriamente ditos, o Homo. Alguns pesquisadores acreditam que o Australopithecus anamensis, cuja descoberta foi divulgada em 1995, seria ancestral do gênero Homo.
O mais antigo animal que pode ser chamado "humano" é o Homo habilis, já com um cérebro bem maior. Eles já usavam ferramentas regularmente.
O espécime mais antigo foi achado na Tanzânia e tem cerca de 2 milhões de anos.
A seguir, surge no registro fóssil o Homo erectus, a aproximadamente 1,5 milhão de anos atrás. Além de ter um cérebro maior, os fósseis de Homo erectus estão associados a ferramentas de pedra mais bem feitas, como machados de mão. Foi o primeiro hominídeo a sair da África para a Ásia e, talvez, a Europa.
Com a nova descoberta, começa a ser preenchida essa lacuna entre o Homo erectus e o Homo sapiens.
Até agora, um dos hominídeos mais primitivos da Europa tinha sido achado em Heidelberg, na Alemanha. Batizado de Homo heidelbergensis, seria ele para alguns o ancestral do homem moderno, Homo sapiens.
Bermúdez de Castro e colegas, ao contrário, acham que o Homo antecessor é o verdadeiro elo.
Os seres humanos modernos surgem há cerca de 500 mil anos, mas ainda não são anatomicamente iguais ao homem de hoje. Por isso, muitos cientistas o chamam de Homo sapiens arcaico.
Entre 200 mil e 30 mil anos acham-se fósseis do homem de Neanderthal, que antes se classificava em outra espécie do gênero Homo, mas que hoje é considerado uma "subespécie" extinta do homem atual (Homo sapiens neanderthalensis). Fósseis humanos de 40 mil anos já são idênticos aos de hoje.

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