São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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"Goiabou"?

MARTA SALOMON

Brasília - Uma das contribuições do ministro Sérgio Motta à política brasileira foi popularizar a expressão "cara de paisagem".
O termo define um certo ar impávido com que o tucanato tenta administrar a aliança que sustenta Fernando Henrique Cardoso.
Justifica-se: crêem os amigos de FHC que a disputa por poder na aliança é coisa natural e que, por mais que briguem, os aliados do PSDB, PFL e PMDB não ousariam levar a sério a proposta de romper com o governo.
Talvez seja preciso mais do que uma cara de paisagem para dar fôlego ao governo e às reformas constitucionais -cujo nó, se não implode o futuro imediato do Plano Real, pelo menos contamina as expectativas de crescimento da economia e o potencial eleitoral de FHC.
É o que suspeitam alguns tucanos, pefelistas e peemedebistas da periferia do Palácio do Planalto.
Enquanto FHC estuda o formato do novo comando político do governo, parlamentares que nem sempre são ouvidos pelo presidente, mas têm votos, discutem a convocação de um referendo popular à reeleição.
Como na época em que a Câmara discutia a emenda da reeleição, o Planalto prefere resolver tudo diretamente com os políticos a ouvir o eleitor. "Referendo para quê?", estranha um dos mais próximos interlocutores de FHC, que se encarregou de bombardear a idéia, considerada tão inoportuna quanto a instalação de uma CPI para investigar o negócio dos votos.
"A democracia é cara, mas o referendo é a única forma de mudar o clima e abafar a suspeita de compra de votos", insiste o deputado Ney Lopes, vice-líder do PFL.
"O referendo não é nada absurdo. Ao contrário, a proposta é muito oportuna", endossou o secretário-geral tucano, Arthur Virgílio Neto, recém-desembarcado de Paris, onde foi observar o desempenho eleitoral dos socialistas franceses.
Voltou mais preocupado ainda com o destino da social-democracia tucana. Para usar um outro termo do dialeto de Sérgio Motta: quando as coisas vão mal, estão "goiabando".

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