São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997
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ARTIFÍCIO ARGENTINO

A Argentina instituiu um novo sistema de controle das importações e anunciou a possível criação de uma taxa administrativa de 0,5% sobre compras externas. A primeira medida atinge todas as nações. A segunda isentaria as trocas no Mercosul -portanto não afetaria o Brasil.
O subfaturamento e outros tipos de fraude que com alguma frequência ocorrem em vários países servem de argumento a novas medidas de fiscalização. Mas, de modo geral, é inegável o caráter artificioso desse tipo de restrição não-tarifária.
Os exportadores brasileiros protestaram contra a nova burocracia. Mas a idéia de adotar uma alíquota de importação adicional parece receber boa acolhida em setores do governo. Em vez de opor-se, o Brasil pode adotar medida similar.
Isso porque o Plano Real enfrenta o mesmo tipo de constrangimento externo com que se defronta a estabilização da moeda argentina.
Aqui, como lá, a estratégia de combate à inflação recorreu fortemente à valorização da taxa de câmbio e à liberalização das importações. Nessas circunstâncias, a possibilidade de um crescimento mais vigoroso da economia ficou associada à ameaça de agravamento do déficit externo e, no limite, ao fantasma de uma crise.
A dura recessão promovida pelo governo argentino em 95 ajudou a minorar esse problema, pois reduziu alguns preços. Mas o dilema continua posto, e a saída não é fácil para qualquer dos dois países.
Uma desvalorização da taxa de câmbio teria efeitos traumáticos e tende a provocar alta na inflação. De outro lado, manter indefinidamente um crescimento baixo provoca corrosão no tecido social e na popularidade dos governantes.
Essa encruzilhada explica as inclinações por pequenos ajustes. O novo controle argentino tem o mesmo sentido da proibição brasileira ao financiamento de compras com cartão de crédito no exterior. São iniciativas que amenizam o desajuste macroeconômico, mas que dele dão prova.

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