São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997
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Fantoches da futilidade

RUI NOGUEIRA

Brasília - Em outubro de 93, um diretor de jornal fez a seguinte pergunta ao encerrar o 1º Fórum Folha de Jornalismo e Mídia: "Não estariam os jornais se transformando em fantoches da opinião média, em marionetes das pesquisas de opinião?"
A resposta pode estar na pesquisa "Os jovens na mídia", feita entre março e abril deste ano pela organização não-governamental Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância). A pesquisa mapeou os temas e os anúncios publicitários veiculados nos principais cadernos e revistas voltados para adolescentes.
Resultado do mapeamento de 590 reportagens: 68% concentraram-se em assuntos classificados como artes, agenda, comportamento, moda e beleza. Tudo mais, de trabalho a educação, passando por sexualidade, ciências, drogas e solidariedade, ficou com os outros 32%.
Agora, o resultado do mapeamento de 462 inserções publicitárias: os anúncios de campanhas sociais e informativas, somados aos de alimentos, respondem por apenas 16% de toda a propaganda. Os outros 84% são anúncios de moda e beleza, entretenimento e escola. O item escola não tem nada a ver com anúncios de livros e livrarias, discos ou peças de teatro. São propagandas de cursinhos pré-vestibulares, informática e línguas.
A publicidade é um bem necessário, sustenta a independência do veículo, e duvido que algum publicitário perca tempo tentando ditar a pauta do que deve ser escrito nos cadernos para os jovens. Se isso não acontece, por que esse casamento quantitativo entre a futilidade na reportagem e na publicidade? Nas revistas, por exemplo, a maioria esmagadora da pauta ocupa-se de dois assuntos, diversão e vaidade -excessiva exibição individualista e pouca reflexão sobre os espaços de ação pública.
De duas uma: ou estamos todos satisfeitos com o papel de fantoches ou somos incapazes de bolar uma pauta de reportagem que não se limite a reproduzir o que a opinião média parece gostar de ler.

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