São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Maceió concentra funcionários e crise

JOSÉ ROBERTO TOLEDO
DO ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

O principal sinal da crise é o aumento da inadimplência. Com algumas categorias tendo até oito salários atrasados, o número de inadimplentes chegou a 150 mil (21% da população da cidade), segundo o Serviço de Proteção ao Crédito.
Só no mês passado, a lista de devedores foi acrescida de mais 9.436 pessoas. É um número alto, mas, proporcionalmente à população, é menor do que o grau de inadimplência paulistano: 2,2% ao mês em Maceió, contra 2,8% em São Paulo.
Os comerciantes maceioenses também se queixam da proliferação dos camelôs no centro da cidade. O fenômeno indica que os funcionários públicos encontraram, na informalidade, um caminho para sobreviver na crise.
A Prefeitura de Maceió sentiu a crise pela queda no pagamento de tributos. A inadimplência chegou a tal ponto que a prefeita Katia Born (PSB) resolveu fazer uma campanha na televisão oferecendo 80% de desconto para quem pagar o IPTU atrasado.
Crescimento
Apesar da crise, Maceió ainda é a capital que mais cresce no Nordeste. Os dados recém-divulgados do Censo 96 indicam que a capital alagoana cresceu numa média de 2,8% ao ano nesta década. Nos anos 80, Maceió crescia a um ritmo de 4,2% a cada ano.
Isso significa que o fluxo migratório originado no interior do Estado diminuiu nos últimos anos. O principal motivo é a queda abrupta da taxa de fecundidade, de 6,6 para 3,5 filhos por mulher entre os anos 80 e esta década.
O outro motivo da diminuição do ritmo de crescimento é que municípios vizinhos a Maceió passaram a atrair migrantes -principalmente os situados na orla marítima, onde o turismo é uma fonte de renda importante, como em Barra de São Miguel.
Os turistas têm sido uma alternativa decisiva para injetar dinheiro na debilitada economia maceioense. É um dos poucos setores que não foi afetado pelo atraso no pagamento dos salários do funcionalismo.
Patrícia Mourão, presidente da Empresa de Turismo de Maceió, afirma que os hotéis da capital tiveram 100% de ocupação no verão passado. Atualmente, a média é de 55% -boa para esta época do ano, segundo ela.
Falências
Esse dado, entretanto, é enganoso. Há muitas lojas fechando, mas a maioria é de pequenos estabelecimentos comerciais, voltados ao consumo popular, cujos donos nem se dão ao trabalho de formalizar o fechamento da empresa.
"Só as lojas dos shoppings continuam vendendo. É um fenômeno típico de concentração de renda", constata o secretário municipal de Planejamento, Alejandro Luiz.
Não por acaso, funcionários públicos graduados e mais bem remunerados, como os do Judiciário e os da Assembléia Legislativa, continuam recebendo seus salários em dia.
Ex-secretário estadual de Administração do governo Collor, Gilberto Braga Melo diz que o governo, que já não investia, agora cortou os serviços e os empregos. "O Estado falhou como empregador e, assim, deixou de distribuir renda", afirma o ex-secretário.

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