São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997 |
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Cpem enviou dossiê para o PT em 1995
FERNANDO RODRIGUES
Datado de 17 de maio de 1995, esse dossiê tem cerca de mil páginas, não numeradas. Contém cópias de contratos, decisões judiciais e explicações detalhadas sobre todas as acusações que hoje pairam sobre a empresa e sobre o Partido dos Trabalhadores. O PT aparentemente perdeu o documento ou nunca tomou conhecimento dele. Na última quarta-feira, às 13h59, a Cpem recebeu, fax do partido solicitando a mesma documentação. A Folha teve acesso ao documento de 95 e entrevistou, durante quatro horas, os proprietários atuais e os anteriores da Cpem. Na entrevista, os empresários da Cpem apresentaram números minuciosos sobre os serviços que prestaram para prefeituras do PT. "Pelos contratos, deveríamos ter recebido o equivalente a US$ 11,983 milhões das seis prefeituras do PT para as quais trabalhamos. Mas só recebemos US$ 3,988 milhões", diz Luiz Alberto Rodrigues, ex-sócio da Cpem na época que prefeitos petistas eram clientes da empresa -de 91 a 93. Naquele período, Luiz Alberto, 38, dividia a propriedade da empresa com José Araújo Ribeiro, 39. Hoje, os dois apenas têm uma relação comercial com a Cpem (prestam serviços). Os donos atuais são Celso Fernando Rodrigues, 61, e Marco Antonio Cury, 31. Os quatro conversaram com a reportagem da Folha na quinta-feira. Hoje, a Cpem quer distância do PT. "Você sabe que trabalhar para órgãos públicos não é fácil, mas dentro dessas dificuldades tem sempre algo considerado o pior. Esse pior é o PT", diz Luiz Alberto. Para a Cpem, as prefeituras do PT são, de longe, as piores cumpridoras dos contratos firmados. Assinam os documentos e depois dizem não poder cumprir. A Cpem está tentando cobrar na Justiça os valores devidos e não pagos pelas prefeituras petistas -num valor total equivalente a US$ 7,994 milhões. "Esse valor não foi arbitrado por nós. Trata-se de algo que estava estipulado nos contratos, por meio de uma fórmula. É algo imutável, que não permite interpretações", diz José Araújo Ribeiro. Os problemas causados pelo péssimo relacionamento com o PT acabaram afastando a Cpem de prefeituras administradas por esse partido. Desde 93, a empresa não presta serviços para administradores petistas. O mau histórico de pagamentos dos petistas foi agravado quando pipocaram as acusações sobre possíveis favorecimentos que a Cpem teria do PT. A Cpem presta serviços hoje para 44 prefeituras. São 40 no Estado de São Paulo e quatro em outras unidades da Federação. Ao todo, a empresa estima que já trabalhou para cerca de 300 prefeituras. Ligações perigosas As ligações da Cpem com o PT são fruto de uma coincidência, e alguns fatos ainda não totalmente explicados. Primeiro de tudo, a coincidência: a empresa nasceu e até hoje tem sua sede em São Bernardo do Campo (SP), no Grande ABC -o berço do sindicalismo que deu origem ao PT nos anos 70 e 80. Além disso, um dos advogados que presta serviços para a Cpem é Dirceu Teixeira, irmão de Roberto Teixeira -amigo e compadre de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente de honra do PT. Dirceu Teixeira foi funcionário da Prefeitura de São Bernardo. Especialista na área tributária, começou a prestar serviços para a Cpem há dez anos, em 87. Além de serviços jurídicos, Dirceu também atuou um pouco na área comercial da Cpem. Em 87, por exemplo, logo que começou a trabalhar para a empresa, ajudou a conquistar um contrato com a cidadezinha goiana de Porangatu. O que nunca foi explicado é até que ponto a ligação da Cpem com Dirceu facilitou o acesso da empresa a prefeitos petistas. Os donos da empresa negam qualquer favorecimento. Roberto Teixeira, em entrevista à Folha há uma semana, também negou. "Isso é ridículo. Basta ver para quantas prefeituras trabalhamos. Quando tínhamos contratos com as do PT, isso representava menos de 2% dos nossos negócios", diz José Araújo Ribeiro. "Nós nunca fizemos acordo para financiar campanhas ou pagar propinas por contratos fechados. Não fizemos com o PT nem com qualquer outro partido", diz Luiz Alberto. Um dos exemplos que a Cpem dá para rebater as acusações de favorecimento em cidades administradas pelo PT é o caso de São Paulo. Durante a gestão da prefeita Luiza Erundina (PT) em São Paulo (89-93), a Cpem foi contratada junto com outras quatro empresas do ramo, em 92 e 93. Nesses dois anos de trabalho, recebeu o equivalente a US$ 81,9 mil. Já durante a gestão de Paulo Maluf (PPB), que sucedeu à de Erundina, a Cpem teve um contrato mais amplo. Isso gerou um recebimento de R$ 2,529 milhões. Texto Anterior: Problemas na arrecadação são políticos Próximo Texto: Entenda o caso Índice |
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