São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Finanças do Banespa exibem recuperação

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banespa, que atualmente toma emprestado cerca de R$ 13 bilhões de outros bancos para fechar o caixa todos os dias, passará, em breve, a emprestar.
"A solução negociada levará o banco a uma situação privilegiada para enfrentar a concorrência nesses tempos de reformulação do setor financeiro", afirmou Antonio Carlos Feitosa, que desde agosto de 95 preside o Conselho de Administração do banco por determinação do BC (Banco Central).
Mas é exatamente a partir da solução que começam os maiores problemas. A mesma dívida (do Estado) que quebrou tecnicamente o banco garante uma renda de cerca de R$ 100 milhões ao mês para a instituição. É o que o banco cobra para girar os títulos estaduais no mercado.
Segundo os cálculos dos interventores, uma economia mensal de R$ 20 milhões seria suficiente para equilibrar o caixa.
Por isso, eles promoveram mais um corte de pessoal neste ano, que teria reduzido a folha salarial em pouco mais de R$ 14 milhões ao mês. O restante seria obtido com o fechamento de 91 agências. Mas, até agora, apenas 35 agências foram fechadas.
Uma liminar judicial (decisão provisória) determinou a suspensão do fechamento de agências. O banco recorreu.
Mesmo que atinja a meta de corte das despesas, ainda restarão R$ 80 milhões mensais que o banco terá de levantar com o incremento de suas operações. Os interventores acham que o banco tem estrutura para isso.
Mas eles sabem tão bem quanto qualquer operador do mercado financeiro que dinheiro em caixa é prejuízo. Os bancos que ganham dinheiro hoje em dia são aqueles que melhor cumprem a função de banco: captar dinheiro barato (poupança, CDB, RDB) e emprestar bem a bons pagadores.
Segundo o analista Mário Alberto Lopes Coelho, da consultoria Austin Asis, para sair mesmo do vermelho, o Banespa terá de fazer o dinheiro (ou os títulos) que receber renderem o máximo. Ou seja, "emprestar corretamente, sem cometer os erros do passado", diz.
Além de enxugar radicalmente a estrutura. "Reduzir o custo fixo é a ordem do momento", afirma.
O Bradesco -terceiro maior banco do país-, por exemplo, cortou cerca de 7.000 funcionários entre 1995 e 1996.
Além da dívida do Estado, o Banespa tem R$ 4,8 bilhões emprestados ao setor privado. Após dois anos de esforço de recuperação, os interventores fizeram acordo para receber R$ 583 milhões.
"Os 500 maiores devedores respondem por 92% do estoque", diz o diretor de Recuperação de Crédito, Paulo Renato dos Santos. O maior devedor é a CAC (Cooperativa Agrícola de Cotia), que faliu.
Privatização
O acordo que o governador Mário Covas (PSDB) assinou com o governo federal prevê que o banco seja vendido até novembro de 98.
O primeiro passo será a federalização do banco, ou seja, o controle acionário (51% das ações com direito a voto) será vendido pelo governo do Estado para o governo federal. São Paulo ainda manterá 15% das ações.
Para isso, é preciso definir o preço do banco, o que será feito por duas empresas de consultoria que devem ser contratadas e começar a trabalhar, no máximo, nos próximos três meses. Uma das empresas deverá administrar o banco federalizado até sua venda.
Apesar de tudo estar definido, nada pode ser feito antes que se resolvam duas pendências:
1) o Senado tem de aprovar os termos do acordo assinado entre São Paulo e a União;
2) o Congresso tem de autorizar a reprogramação do Orçamento da União para acomodar os mais de R$ 100 bilhões em títulos que terão de ser emitidos pelo governo federal para cumprir os acordos com os Estados.
Como a novela do Banespa está chegando ao fim, Feitosa reuniu oito dos nove diretores para fazer um balanço da intervenção.
"Nós sempre ouvimos que a situação estaria definida em um mês", disse Feitosa, dando uma idéia da transitoriedade embutida nas ações do BC no banco. "E até o final do ano passado achávamos que o banco voltaria para o Estado", emendou.
Com um cenário desses, os funcionários do BC se preocuparam mais em manter o banco operando no dia-a-dia e tentando aumentar a captação de depósitos junto ao público do que com qualquer medida efetivamente saneadora.
Em resumo: o banco aumentou a captação de dinheiro junto ao público e passou por um enxugamento no quadro de pessoal que, contando concursados, contratados e terceirizados, beirou 14 mil demissões e aposentadorias.

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