São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Mulheres perdem homem na hora do gol

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Corinthians campeão, bom para o time, ruim para a dentista Cristiane Laham, 25, que foi dormir sozinha na quinta-feira passada.
O marido dela, o engenheiro Paulo César Frossard, 29, preferiu a ruidosa companhia do pessoal da torcida Gaviões da Fiel.
"Eu costumo dizer que o Paulo torce por mim e ama o Corinthians", diz Cristiane, que está casada há oito meses.
Frossard assistiu à final de quinta-feira no estádio e depois saiu com a torcida para comemorar.
Quando o jogo não é tão importante, ele leva os amigos torcedores para dentro de casa.
"Às vezes tenho a impressão de que não me casei com um homem, mas com um time de futebol inteiro", diz Cristiane.
O apelido de Paulo na torcida é "Foguinho", por causa dos cabelos ruivos, e, quando gritam assim por ele na rua, Cristiane já sabe.
"É sempre uma daquelas criaturas esquisitas da torcida", diz. "Morro de vergonha."
São Paulo x Catanduvense
O são-paulino doente Luiz Eduardo Martinez, 29, não tem apelido de torcida, mas mesmo assim faz a noiva Ana Vitória Imbronito, 27, passar vergonha na rua.
"Sabe com que roupa ele sai aos sábados comigo?", conta Ana Vitória. "Com a camisa de algum time de futebol. Ele faz coleção e acha bonito sair daquele jeito."
Martinez nega que seja fanático, mas Ana Vitória pergunta: "Como é que a gente chama, então, uma pessoa que vai ao estádio numa quarta-feira útil para assistir a São Paulo e Catanduvense?"
Ana Vitória foi ao estádio duas vezes. Ela diz que, na ocasião, conheceu um outro Luiz Fernando. "Ele se transforma", diz. "Grita, fala palavrão, um absurdo."
Além de assistir aos jogos, os gols da rodada e todos os programas esportivos da TV, Martinez, que também tem uma página só sobre o São Paulo na Internet, ainda arranja tempo para frequentar o centro de treinamento do time.
"No total, se eu colocar na ponta do lápis, só no computador ele gasta cerca de uma hora por noite", calcula Ana Vitória. "Eu vou dormir, não espero."
Sobre a derrota de quinta passada, Martinez diz que fez um breve comentário na página da Internet. "O time jogou bem, mas não está numa fase muito boa", diz ele.
Pelada sagrada
Assistir aos jogos no estádio e aos programas esportivos na TV não é suficiente para o santista Cláudio Arruda, 38. Ele gosta também de jogar "uma bolinha".
"Nunca marco nada nas terças-feiras", ele conta. "É dia sagrado de pelada com amigos."
Chova ou faça sol, Arruda nunca deixa de ir à pelada. Por isso, a mulher dele, a dona-de-casa Janete Nunes, 38, não lhe dirige a palavra desde a semana passada.
"Não tinha a menor necessidade de ele sair de casa para jogar bola com aquela chuva", diz Janete.
Maridos fanáticos por futebol deixam sequelas. A publicitária Ana Cristina de Toledo Pizza Mariano, 32, por exemplo, não pode ouvir a voz do comentarista esportivo Luciano do Valle.
"Ele era meu rival", afirma Ana Cristina, cujo ex-marido não perdia uma edição do programa "Show do Esporte" (que vai ao ar todos os domingos à tarde, na TV Bandeirantes).
O ex-marido de Ana Cristina era palmeirense doente, mas, segundo ela, interessava-se até por jogo de bolinha de gude.
"Ele assistia ao tal do 'Show do Esporte' até o fim, um horror. Até o programa do Silvio Santos me parecia mais agradável", diz Ana Cristina.

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