São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997 |
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Rodman se oferece em contrato de risco
MELCHIADES FILHO
Dennis Rodman, 36, respeita seus últimos dias de contrato com a equipe, que está disputando seu quinto título nos anos 90. Conhecido pelas tatuagens, cabelos coloridos e noitadas em claro, o ala-pivô parece ter testado além da conta a paciência dos patrões. Em Chicago, é dada como certa sua dispensa após o mata-mata pelo campeonato 96-97. Talvez por causa das críticas, sua atuação no duelo com o Utah Jazz tem sido atipicamente contido. Interrompeu, por exemplo, a série contínua de faltas técnicas que vinha registrando nas 13 partidas anteriores à decisão. Não brigou, não agrediu, não cuspiu em ninguém. "Espantado?", perguntou, irônico, à Folha, de óculos escuros, boina rastafári, camiseta branca pelo avesso, espinhas e arranhões na cara, cabeleira recém-tingida de magenta, amarelo e vermelho. Melhor reboteiro da liga norte-americana profissional de basquete há seis temporadas -um recorde-, ele se diz "aclimatado" a Chicago. "Não quero ir para um time jovem, sem chances de chegar ao título. Não quero também ir para um time de estrelas choronas", afirmou na quinta-feira. Rodman se ofereceu para ficar no time sem salário garantido -receberia no final da temporada apenas se os donos dos Bulls estivessem satisfeitos com seu rendimento. "Eu valho quanto peso." * Folha - Você parece mais recatado em quadra nestas finais. Até seus colegas estão estranhando. Dennis Rodman - Não precisei mostrar meu fogo até agora. Nosso time manteve as duas primeiras partidas sob controle. Para que serviria eu bater em alguém? Mas, à medida que o tira-teima avance, talvez precise reformular minha conduta e chutar alguns traseiros. Folha - Você quer dizer que seus atos não convencionais são sempre meticulosamente calculados? Rodman - Nesse ponto do campeonato, o basquete é um jogo mais mental e emocional do que físico ou técnico. Folha - O técnico Phil Jackson discorda, acha que você não está se envolvendo o suficiente na briga pelos rebotes e nos deslocamentos ofensivos. Rodman - Talvez ele esteja certo. Talvez deva dar uma porrada em alguém para me ligar. Ou acertar uns três arremessos seguidos, ou errar três arremessos seguidos. Folha - Você cumpre os últimos dias de seu contrato com os Bulls. O jogo de quarta-feira, aliás, pode ter sido seu último em Chicago. Muito se tem falado sobre a renovação dos contratos de Michael Jordan e Phil Jackson, mas seu nome está excluído até da boataria. As pessoas parecem certas de que você não continuará no time. O que você acha disso tudo? Rodman - Eu poderia dizer que não estou dando a mínima. Mas gosto daqui. Vamos ganhar tranquilamente o campeonato e preferiria permanecer e tentar mais um título na próxima temporada. Folha - Segundo a imprensa da cidade, os dirigentes do Chicago perderam a paciência com você. Rodman - Mas nos playoffs eles sabem da minha importância. Quando o jogo está por um fio, quem é chamado para garantir o rebote, fechar o garrafão, intimidar o adversário? Quanto a essa onda de reclamações, eu ofereci a eles um negócio de risco. Acerto verbalmente um contrato, sei lá, de uns US$ 10 milhões. Eu disputo o torneio inteiro, e eles só me pagam no final se estiverem satisfeitos comigo. Que tal? Folha - Curiosamente, o adversário destas finais, o Utah Jazz, é um dos times que poderia ter assinado com você antes do campeonato. Rodman - Jamais iria para lá. O que fazer? O lago de Salt Lake City é fedorento, a noite é vazia, as pessoas são chatas. Só iria para lá se permitissem a poligamia (ironia com a religião mórmon, homogênica em Utah, que permitia na sua origem o casamento de um homem com várias mulheres). Texto Anterior: 'Azarão' Majoli ganha o título feminino Próximo Texto: Utah diminui a desvantagem Índice |
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