São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Obra explica origem de curiosidades

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O bom humor e a detalhada explicação de fenômenos estranhos são uma das marcas de "A Aventura das Línguas no Ocidente".
Ao comentar a grande facilidade do idioma alemão de incorporar elementos estrangeiros, a autora relembra um exemplo bastante curioso: a "Fast-food Gastronomie". Bem à francesa, como não poderia deixar de ser, complementa, afirmando que, embora o termo exista, não deixa de ser uma contradição nos termos.
Se alguém já se perguntou por que os franceses insistem nos quase incríveis "quatre-vingts" (80) ou "quatre-vingts dix" (90), encontrará a explicação de que se trata de uma herança céltica que usava o sistema vigesimal e não decimal para contar. Exatamente como se vê hoje em galês, em que o número 80 é dito "pedwar ugain" (4 x 20).
Ainda na babel numérica, os dinamarqueses vão ainda mais longe. Além de, como os franceses, misturarem à vontade os sistemas decimal e vigesimal, usam de abreviações que, para estrangeiros, criam verdadeiros paradoxos. "tre" é um simples "três". Já "tres" é na verdade "sessenta", ou melhor, uma abreviação de "tresindstvye" (3 x 20). Muito pior é o "halvtreds" (50). Reconhecem-se aí as formas "halv" (metade) e "treds" (20), mas 50 não é nem jamais foi a metade de 20.
É que "halvtreds" é na realidade a metade da terceira vintena, como se as duas anteriores já tivessem sido contadas e somadas (20 + 20 + (-10) + 20). Se fica difícil entender como os dinamarqueses já foram bons comerciantes, fica mais fácil, contudo, compreender como já foram os temíveis viquingues.
As curiosidades vão muito além. Walter narra o surgimento da língua latina como um rústico idioma de camponeses. Dá alguns exemplos "luxus" (que nos deu "luxo") era primordialmente o lugar onde a vegetação crescia com abundância, chegando a atrapalhar o plantio. É daí que, em latim, a palavra "luxus" sempre conservou um caráter pejorativo, como se vê de forma mais clara no português "luxurioso".
A obra chega a ser detalhista ao descrever a influência árabe nas línguas românicas do sul da Europa. Um dos exemplos mais curiosos é o italiano "facchino" (carregador de bagagens). Originalmente, a palavra significava "teólogo ou jurisconsulto". Evoluiu para o sentido de "alfândega". Por volta do século 15, grave crise econômica forçou os funcionários oficiais a "comercializar" tecidos que transportavam sobre seus ombros de uma feira para a outra. Daí, "carregador de bagagens".
Essas são apenas algumas das muitas histórias -não necessariamente as melhores- de palavras e fatos linguísticos que, ao mesmo tempo, revelam a diversidade e os pontos de contato de tantos idiomas. Mais informações relevantes e curiosas, só lendo o livro.
(HS)

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