São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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Terra de ninguém

MELCHIADES FILHO
O UTAH JÁ LEVOU O TÍTULO DE EQUIPE MAIS DIFERENTE DA NBA.

A esquisitice começa pelo nome. Jazz só fez sentido até 1979, enquanto a franquia esteve baseada em New Orleans, berço da música negra e entrada dos escravos na América do Norte.
Não tem nada a ver com Salt Lake City, sem agito cultural, sem graça, erigida por peregrinos mórmons num planalto desértico no miolo dos EUA.
Traçando um paralelo, é como se disputassem o Brasileiro os times Goiás Surfistas, Paraíba Guarda-Chuvas e Rio Grande do Sul Acarajés.
A questão étnica é outra peculiaridade do time que vem desafiando o Chicago Bulls nas finais da temporada 96-97.
Em Salt Lake City, segundo censo de 1990, a população negra responde por 0,7%. Dos 134 funcionários da administração do Jazz, do dono à dançarina que anima as partidas, contei apenas 1 que não é branco.
Em quadra, em termos táticos, a distinção se repete.
A NBA de hoje tem privilegiado o jogo mano-a-mano -o time isola seu melhor jogador em um canto do ataque e torce para que ele leve vantagem sobre o marcador na criatividade.
No Utah, esse isolamento envolve um dupla, normalmente John Stockton e Karl Malone.
Numa margem do garrafão, eles trocam passes e corta-luzes até que um se livre para chutar.
Por abdicar do improviso, esse artifício, o "pick and roll", tira a explosão do jogo, torna-o matemático, previsível, às vezes maçante -imagem distante da que a NBA e parceiros econômicos bombardeiam na mídia.
Talvez por causa disso tudo o Jazz é considerado um "exílio" na liga. Ninguém quer jogar lá.
A ponto de dois iconoclastas notórios, Dennis Rodman e Brian Williams, do Chicago, apelarem ao Todo-Poderoso quando inquiridos pela Folha sobre a idéia: "Deus me livre".

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