São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997 |
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Talento de Tagliaferro é lembrado em CD e livro
JOÃO BATISTA NATALI
É pouco como amostragem de uma longa carreira que poderia estar bem mais presente no mercado discográfico. Entre os anos 20 e 60, ela fez na Europa uma carreira de concertista que lhe deu uma reputação então comparável à de um C7laudio Arrau ou muito próxima daquela de um Artur Rubinstein. Ainda em 1971, uma das três emissoras públicas de rádio na França transmitia ao vivo suas master classes na Salle Pleyel. Nenhum pianista francês era digno, na época, de tamanha deferência. O fato é que Magdalena (seu prenome por extenso) não soube administrar suas relações com a indústria do disco. Ficou presa ao círculo relativamente restrito da música parisiense. É por isso que são hoje escassos seus registros fonográficos. Para quem se interessa por piano, "A Arte Pianística de Magda Tagliaferro" é algo indispensável. O CD traz, remasterizados, trechos de seus recitais, tombados pelos arquivos do INA (Instituto Nacional do Audiovisual). É uma espécie de museu do que foi até hoje transmitido pela rádio e pela TV estatais na França. Existem algumas preciosidades. Ouçam a "Sonata em Ré Maior", K.576, de Mozart. A referência no CD está incompleta. Trata-se da última das 17 sonatas do compositor, denominada "A Caça". Nela, Magda pinça as notas, com imensa naturalidade, como se lidasse com pedrinhas de um mosaico. Oferece uma leitura mais envolvente que Mitsuko Uchida ou Paul Badura-Skoda, outros excelentes intérpretes. Há muita leveza no timbre, sem cair numa espécie de superficialismo diletante (que talvez seja a marca de uma pianista como Ingrid Haebler). Há o frescor de um Mozart desprovido de angústias, com um preciosismo moderado. Outra faixa curiosa: a "Sonata nº 3 em Lá Menor", opus 28, de Sergei Prokofiev. Há um lado anedótico, revelado pelo encarte do CD. O compositor russo procurou a pianista brasileira em 1922, sugerindo que, depois dele, fosse ela a primeira a interpretar a peça. "Foi então que cometi uma das maiores tolices de minha vida", desabafaria, muitos anos depois. Guardou a partitura anotada pelo próprio Prokofiev, esqueceu-se dela, e a incorporou a seu repertório só nos anos 50. Sua interpretação comprova o quanto o público e o compositor saíram perdendo. A leitura é leve, sem solenidade marcial, com a ênfase no melódico, mesmo nos trechos em que a mão esquerda encadeia uma sucessão de acordes, como que para neutralizar os longos fraseados da direita. O livro da japonesa Asako Tamura, que estará também sendo hoje lançado, não é um tratado exaustivo de uma carreira iniciada por Magda Tagliaferro aos 13 anos. É uma espécie de manual de procedimentos para um estudante de piano, o que já é bastante. (JBN) Livro e CD: A Arte Pianística de Magda Tagliaferro Quando: lançamento amanhã, às 19h Onde: Saraiva Mega Store do shopping Ibirapuera (av. Ibirapuera, 3.103, tel. 011/5561-7290) Quanto: R$ 18, o CD; R$ 15 o livro; ou R$ 30, os dois Texto Anterior: Boulez expõe Mahler polifônico Próximo Texto: Riqué cria novo estilo de 'happening' Índice |
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