São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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A sexualidade explica hoje as práticas políticas

ARNALDO JABOR
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Chega de política. Vou falar de sexo. Antes, havia a "sexpol", bandeira da política sexual dos anos 60. Hoje, temos no máximo a "polsex", ou seja, como as ideologias dançaram, só a sexualidade explica os rumos do mundo e, claro, do Brasil, nosso grande motel das ilusões perdidas. O sexo comanda o espetáculo político. Que taras estão rolando? Vamos lá.
* "Coito interrompido" - Prática comum no Congresso. Chama-se bloqueio ou DVS. Impedir o gozo do outro, impedir que qualquer mudança se fertilize. Visto pelo povo, provoca angústia de castração e depressão sexual.
* Sexo de governo a governo:
Tancredo Neves - "coito interrompido" brabo. Brasil fica sem gozar.
Sarney: Casa com a "pátria viúva". A pátria-dona-Flor queria o primeiro, mas acabou com o segundo, ruim de cama.
Collor: Símbolo fálico bonapartista. Era tão macho (comera atrizes e cantara cunhadas). Os machos nacionais tinham uma quedinha "gay" por ele quando diziam: "Corrupto sim, mas que ele é macho, é..."
Itamar: Amor solitário e romântico. Caiu nas garras da Lilian Ramos. Xotinha voadora quase acaba com governo. Itamar desprezava as namoradas carentes. Seu verdadeiro amor sempre foi FHC, que o abandonou numa dor-de-corno cheia de lágrimas e vinganças.
FHC: Adepto do "donjuanismo masoquista" (seduz tanto virgens quanto meretrizes). O "donjuanismo masoquista" seduz, mas não come as presas, aliados que acabam traindo-no sadicamente.
* Troca-troca, ou "meia", como dizem os cariocas - O jogo político ressuscita essa prática pederasta de fundo de quintal. No calor dos conchavos, nos bafos secretos dos cantos do Congresso, ouvimos seu lema: "É dando que se recebe". Geralmente o governo dá primeiro e depois o comedor foge, gritando: Otário, otário...
* Pátria amada - A mãe sagrada, idolatrada, salve salve na cabeça dos brasileiros. Complexo de Édipo mal resolvido. A "Mãe Pátria" é vista como nossas florestas virgens, cachoeiras eróticas, índias nuas ameaçadas pelo estupro do inimigo estrangeiro (vide Hino Nacional). Só o Estado-pai, de bigode feroz, pode ameá-la. Se deixarmos (crêem), o neoliberalismo estuprador invade o corpo puro da pátria amada.
* Pátria amantes - A cada privatização, o nacionalista-de-porta-de-leilão imagina a mãe pátria cada vez mais sem-vergonha, de ligas negras e lingerie verde e amarela, dançando a dança da garrafa com os gringos.
* Prostíbulo e virgindade - Essa dualidade pureza-prostituição percorre a vida partidária. Ou você está na orgia das alianças ou na virgindade petista. O PT parece aquelas virgens pobres que, sem assunto, sem programa, só têm sua pureza como valor. Mas, como os noivos são cafajestes, nenhuma aliança é celebrada, e o PT vai ficar para titia.
* Masturbação - Nhenhenhém praticado com a mão direita e a mão esquerda. Os políticos ficam na bronha ideológica, imaginando grandes cópulas que nunca chegam, pois preferem a solidão do pecado ao mundo real.
* Voyeurismo - Vício popular que surgiu na democracia. Único consolo para os impotentes como nós: ficar vendo as sacanagens alheias, agora em cores e som, com o advento dos gravadores e videocassetes. Esse é nosso voyeurismo "underground", alternativo. Voyeurismo Chic: TV Senado, onde podemos ver, por exemplo, a excitante briga conjugal de ACM com Pedro Simon, entre coices e beijos de amor.
* Dança da garrafa na beira do abismo - "Vai abaixadinho vai, curva a cabecinha vai, ajoelha direitinho vai, aguenta a trutazinha, vai!" É nosso atual hino-pagode, que descreve as posições passivas do povo diante dos donos do poder.
* Ejaculação precoce-urgência do Executivo - Logo frustrada pela lentidão dos "empata-transas" de direita e de esquerda.
* Fidelidade partidária - Tão esquecida quanto a conjugal, nesses tempos adúlteros.
* Êxtase sexual místico - Já que a política não está estimulando adesões apaixonadas, temos a islamização dos evangélicos. Ver esse filme pornô-religioso nas madrugadas da TV.
* "Passaralhos" ou peruzinhos voadores - Perigosos pênis imperialistas que rondam nosso mercado financeiro. Qualquer subida de juros externos pode nos jogar no buraco negro da miséria.
* Pau na mesa (bater com) - Expressão de fundo erótico claro, significando o desejo que o povo tem de ver a virilidade eventual do Príncipe.
* Bissexualidade ideológica - Encontradiça no PSDB, gemendo nos muros de Brasília.
* Ménage à trois - PFL, PMDB e PSDB. Ou PT-PDT-PPB...
E por aí vamos. São perversões sexuais variadas, como "orgia de gastos", "surubas sangrentas e necrofilia" (vide o erótico assassinato de PC), "brochuras administrativas", "defloramento de fundos de pensão", "felatio e cunilinguismo" nas tetas do Estado, "cópulas secretas" nos precatórios, arrombamentos de Banco do Brasil, juízes estupradores, em suma, toda uma gama de taras sexuais para cima de nós, que nunca temos o orgasmo total do processo e que, breve, fundaremos o MSC, Movimento dos Sem-Calças, daqueles que não param de levar ferro.

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