São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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'Capitães de Abril' quebra tabu

LEON CAKOF
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A atriz e cineasta franco-portuguesa Maria de Medeiros, 31, musa de Quentin Tarantino em "Pulp Fiction" e sempre gentil com cineastas estreantes -em cujos filmes aceita atuar-, conclui em Paris a produção do seu segundo longa, "Capitães de Abril", a ser filmado em fevereiro em Portugal.
"Sempre imaginei a revolução portuguesa como um grande filme de aventuras. Depois de consultar longamente alguns dos seus verdadeiros protagonistas, senti que eles próprios se sentiram nesse dia como heróis hollywoodianos."
Grávida de cinco meses, Maria repassa em Paris os detalhes do roteiro ao lado do marido catalão Agusti Camps, que acaba de concluir em Madri seu trabalho de cenografia em "Carne Trêmula", novo filme de Pedro Almodóvar.
"Capitães de Abril" irá quebrar um tabu que ainda cheira à provocação aos portugueses. O filme resume com humor e emoção as 24 horas do levante dos capitães, em 25 de abril de 1974, que teve total adesão popular e deu fim ao fascismo salazarista e às atrocidades das guerras coloniais de Portugal na África. Será o primeiro filme ficcional sobre o tema.
Ao contrário de seu filme de estréia -"A Morte do Príncipe", de 1990, baseado numa peça de Fernando Pessoa, onde ela atuava e dirigia-, desta vez ela só dirige. A co-produção entre três países terá atores da França (Marie Trintignant), Espanha (Javier Bardem) e Portugal (Joaquim de Almeida).
Maria antecipa que este será um filme "politicamente correto e ao mesmo tempo subversivo".
Ela começou a pesquisa para o roteiro há dez anos, fascinada pela personalidade de um dos personagens reais do levante.
"O Salgueiro Maia é o meu herói, um capitão muito puro, levava uma granada no bolso, queria ser mártir. Foi um nome muito discreto, voltou ao quartel depois da revolução, foi estudar, nunca aceitou cargos políticos. Nunca se deixou seduzir pelo poder, num momento em que os capitães eram consultados para tudo, até pelas mulheres, se deviam ou não tomar pílulas anticoncepcionais."
(LC)

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