São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Alunos da 4ª série protestam contra a prisão de sargento

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tranquilidade e a ordem, tradicionais em cerimônias militares, foram quebradas ontem durante as comemorações do aniversário de 132 anos da Batalha Naval do Riachuelo.
O anfitrião, o ministro da Marinha, Mauro César Pereira, foi chamado aos berros de "ditador" por um grupo de crianças.
O protesto de 58 alunos da 4ª série do Caic (Centro de Atendimento Integral à Criança) da cidade goiana de Valparaízo (60 km de Brasília) foi patrocinado pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PPB-RJ), ex-capitão do Exército.
Palavras de ordem
O grupo, com várias faixas, veio num ônibus fretado e ficou colocado na entrada do Grupamento de Fuzileiros Navais, local onde se realizava a cerimônia.
As crianças, orientadas por três professoras, gritavam palavras de ordem tais como "ministro ditador, queremos professor" e "isto não é democracia, é ditadura".
Desconforto
Os berros foram ouvidos no palanque onde estava o presidente Fernando Henrique Cardoso e provocaram agitação entre os convidados e desconforto nos oficiais militares.
O protesto foi por causa do professor Edivaldo Cordeiro de Oliveira, que esteve preso durante 15 dias por insubordinação administrativa.
Segundo a Marinha, ele queria acumular, ilegalmente, o cargo de professor no Caic e continuar recebendo das Forças Armadas.
"Não são coisas malconduzidas que vão tumultuar a festa", disse o ministro Mauro Pereira, negando constrangimento.
"No protesto, infelizmente, são crianças que estão sendo enganadas por alguém que está querendo roubar o país, e a Marinha não permite isso, quando ela sabe", completou.
Liminar
Para assumir a função, ele recorreu à Justiça, obteve uma liminar e lecionou por nove meses.
Depois a Marinha conseguiu cassar a liminar e obteve decisões de mérito do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal que obrigaram o militar a retornar ao quartel, a não ser que pedisse baixa e passasse à reserva não remunerada.
O sargento decidiu então pedir demissão da escola, onde ganhava R$ 120, e ficou com a Marinha, onde recebe R$ 900, aproximadamente. No retorno ao quartel, foi punido com a prisão.

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