São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Juiz critica conduta e métodos de líder

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz Sebastião Mattos Mozine afirmou em sua sentença que a conduta do líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e José Rainha Júnior merece "grave reprovação". Segundo ele, "conquistas sociais não podem ser (obtidas) com derramamento de sangue".
Mozine também manifestou sua opinião sobre a atuação de Rainha na liderança do MST: "A personalidade do agente restou demonstrada que em nome de sua luta social pode praticar crime".
Os antecedentes de Rainha são "maculados", disse o juiz, "pois já registram a prática de crime de resistência".
Mozine criticou as circunstâncias em que os crimes foram cometidos. Observou que os autores estavam em superioridade numérica e tiraram a "vida de quem queria defender sua propriedade".
Quesitos
Os jurados responderam os quesitos formulados pelo juiz. Nas respostas, eles definiram se o acusado praticou o crime, se houve circunstâncias atenuantes ou agravantes etc.
O tamanho da pena foi fixado pelo juiz, a partir dos parâmetros que o júri definiu. No caso de Rainha, Mozine estabeleceu a pena de 26 anos e seis meses de prisão.
O advogado criminalista Arnaldo Malheiros Filho considerou a pena excessiva, ressaltando que não conhece o processo.
"A pena por homicídio normalmente não chega a 20 anos", afirmou.
Márcio Thomaz Bastos, também criminalista, foi mais longe e considerou a condenação absurda.
Bastos estudou o processo há alguns meses e concluiu que não havia indícios suficientes para a condenação.
"Não há qualquer prova que vincule ele (Rainha) ao caso. Acho que o júri errou fortemente."
Atenuante
Na opinião dos advogados, o juiz cometeu um pequeno deslize técnico, que não afeta a sentença.
Mozine reduziu a pena em seis meses porque os jurados "reconheceram a atenuante do desconhecimento da lei".
Bastos e Malheiros afirmaram que o júri disse apenas se houve atenuantes. Coube ao juiz decidir qual era.
Eles consideram estranho conceber que alguém desconheça que é proibido matar.

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