São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Começa temporada de acidentes com fogo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A expressão "brincar com fogo" costuma se transformar numa verdade dramática na temporada de festas juninas que começa hoje à noite, véspera de Santo Antônio. Em quase todos os hospitais, o número de vítimas de fogueiras e de fogos de artifício aumenta cerca de 30% ao longo desse período.
Metade dos queimados é de crianças. Bombinhas que explodem no bolso, rojões que estouram na mão e brincadeiras com fogueiras são os principais causadores. O frio é outro responsável: nos meses de inverno, dobra o número de pessoas que se queimam fazendo fogueiras para se aquecer.
"Mais de 70% dos acidentes com fogo seriam evitados apenas com informação", diz Nelson Sarto Piccolo, presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras. "Transformam uma festa alegre num ritual que acaba deixando marcas para sempre."
Os números mostram que campanhas informativas são fundamentais para derrubar a ocorrência de acidentes. O Hospital das Queimaduras de Goiânia, um dos principais do Centro-Oeste, registrou 117 casos de queimaduras em junho de 1990. No ano seguinte, o hospital iniciou uma campanha na TV em parceria com a Organização Jaime Câmara. Em junho passado, os casos caíram para 17.
"Num único ano em que a campanha não foi para o ar, o número subiu para quase cem", afirma Piccolo.
No serviço de queimaduras do Hospital das Clínicas de São Paulo, os cerca de 900 atendimentos e 300 internações mensais aumentam mais de 20% com as festas juninas e o frio. "Não fossem as entrevistas e os alertas, os números seriam maiores", diz Carlos Fontana, diretor do serviço do HC.
O sucesso da campanha de Goiânia levou seus organizadores a preparar cartilhas que devem ser distribuídas na rede escolar com o apoio do MEC. Crianças de até 14 anos estão sendo treinadas como monitores mirins. "Muitas vezes é a criança que chama a atenção do pai", diz Piccolo.
No Nordeste, são os fogos de artifício -muitas vezes artesanais- que causam maiores danos. Em muitas regiões -incluindo o interior do Estado de São Paulo-, é comum crianças "fabricarem" suas próprias bombas. "Tivemos várias que perderam as pontas dos dedos no ano passado", diz Fontana, do serviço do HC.
Em muitos Estados, crianças e adultos ainda costumam brincar de pular a fogueira. "É comum uma criança pequena tentar imitar os maiores e cair sobre as brasas", diz Piccolo. O médico classifica como "homicídio" o ato de soltar balões. "Um deles caiu na periferia de Goiânia, destruindo barracos e provocando queimaduras graves em crianças."

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